Cientistas criam vírus da Covid em laboratório e geram polêmica
Pesquisadores da Universidade de Boston estão sendo acusados de criar uma versão mais perigosa do vírus da covid-19; cientistas se defendem
Pesquisadores da Universidade de Boston criaram uma versão híbrida do coronavírus, mas seus experimentos estão gerando controvérsia, com direito a manchetes alegando que os cientistas criaram uma versão ainda mais letal do vírus. Em defesa, os cientistas denunciam as alegações como falsas e imprecisas.
As descobertas foram publicadas na última sexta-feira (14), no banco de dados de pré-impressão bioRxiv, e ainda precisam ser revisadas por pares.
O novo vírus híbrido, criado a partir da proteína de pico da variante ômicron e do vírus SARS-CoV-2 original, foi responsável por matar 80% dos ratos infectados com ele em laboratório, o que o torna mais grave que a variante original ômicron, que não matou nenhum camundongo. Porém, a nova versão híbrida foi classificada como menos grave que o vírus SARS-CoV-2 original, que matou 100% dos ratos.
O vírus foi criado pelos cientistas para estudar como as versões ômicron, que surgiram em 2021, evitam a imunidade acumulada contra cepas passadas e causam uma taxa menor de infecções graves.
Depois da exposição dos ratos, os pesquisadores descobriram que a proteína de pico mutante do vírus ômicron permitiu que ele se esquivasse da imunidade, mas que o pico mutado não era responsável por tornar a ômicron menos grave.
Polêmica do novo vírus covid: verbas e treta com jornal
A pesquisa em questão foi aprovada por um comitê da Comissão de Saúde Pública de Boston, mas a polêmica surgiu porque o trabalho não foi esclarecido ao Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, em inglês), que é um dos financiadores, de acordo com o site Stat.
Os cientistas não informaram ao instituto se os experimentos seriam capazes de criar um patógeno aprimorado de potencial pandêmico (ePPP). Para serem concedidas verbas federais para pesquisas sobre vírus do tipo, as propostas têm que passar por um comitê, chamado de quadro P3CO, que avalia os prós e contras do trabalho.
Nos próximos dias, uma representante do NIAID afirma que conversará com os pesquisadores sobre isso. Mas o erro pode ter vindo de uma ambiguidade nas regras do P3CO. Para que um vírus seja definido como um ePPP, é preciso esperar que produza resultados potenciais de pandemia em humanos. Os camundongos usados no estudo podem não ter sido considerado um análogo próximo o suficiente.
Além disso, um reportagem do jornal britânico Daily Mail teria afirmado que a pesquisa havia criado uma variante mais perigosa. Sobre isso, a Universidade de Boston se manifestou em comunicado, dizendo que o veículo "sensacionalizou a mensagem" e deturpou "o estudo e seus objetivos em sua totalidade".