Dia Mundial do Coração: veja avanços da ciência contra doenças cardíacas
Data alerta para cuidados que devem ser tomados para a prevenção de doenças cardíacas, maior causa de mortes do Brasil
O Dia Mundial do Coração, comemorado nesta quinta-feira (29), tem como objetivo conscientizar e alertar a população para evitar o desenvolvimento de doenças cardíacas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), as questões cardiovasculares causam o dobro de mortes que todos os tipos de câncer juntos.
O coração também é a maior causa de mortes do país; o Brasil deve fechar 2022 com cerca de 400 mil vítimas por doenças cardíacas. Até a quarta-feira (28), na plataforma “Cardiômetro” — criada pela SBC para contabilizar os óbitos por doenças do coração no Brasil —, já constavam 299.195 mortes do tipo em 2022.
Por tudo isso, Byte (re)apresenta a você as principais doenças do coração e os avanços mais recentes da ciência contra elas.
Hipertensão arterial
Apesar de muito conhecida, a hipertensão arterial ou “pressão alta” é uma doença relativamente silenciosa e que não apresenta muitos sintomas visíveis. Ela é caracterizada pelo alto nível de pressão sanguínea nas artérias: se seu nível ficar maior ou igual a 14 por 9 (140 / 90mmHg) na maior parte do tempo, você pode ser considerado(a) hipertenso(a).
Alternativas para o tratamento da doença vem sendo estudadas por pesquisadores, sendo a imunoterapia uma delas. Segundo a equipe do biólogo vascular David Harrison, da Vanderbilt University School of Medicine (EUA), uma molécula chamada 2-HOBA é capaz de regular a pressão arterial quase que instantaneamente em ratos, o que seria um bom indicativo para nós.
Nas pesquisas, os roedores geneticamente modificados — que não possuíam as células T e B do sistema imunológico — apresentavam menores níveis de pressão arterial. Quando as células T eram restauradas, no entanto, a pressão voltava a aumentar. Assim, os pesquisadores acreditam que uma droga imunossupressora poderia ser eficiente para controlar a doença, o que está sendo analisado.
Outro estudo recente, da Universidade de Kent (Inglaterra), buscou entender por que algumas pessoas não conseguem controlar a pressão arterial mesmo modificando a alimentação. A explicação encontrada foi de que as bactérias da flora intestinal podem ser as responsáveis.
Foram analisados 158 participantes com pressão alta e diferentes tipos de dieta: rica em gorduras, em proteínas ou em carboidratos. Cada uma das três dietas saudáveis reduziu a pressão arterial na maioria dos participantes. Mas os que não apresentaram melhora tinham diferentes bactérias intestinais, detectadas no exame de urina. Isso sugere que tratamentos futuros podem considerar os antecedentes do indivíduo nesse sentido.
As causas da hipertensão podem advir do excesso de álcool, cigarro, sedentarismo, alimentos com grandes quantidades de sal, obesidade e estresse, mas normalmente o aparecimento da doença está ligado a fatores genéticos.
Doença coronariana
A doença arterial coronariana (DAC) é a forma mais prevalente de doenças cardiovasculares e uma consequência da aterosclerose, em que há obstrução gradual ou súbita das artérias coronárias por placas de gordura e coágulos. Essa obstrução gera insuficiência das artérias coronárias, que levam sangue para o coração, e impede o transporte de nutrientes e oxigênio ao miocárdio.
São vários os hábitos que levam à DAC, como alimentação desequilibrada, obesidade, tabagismo, sedentarismo e estresse. A própria “pressão alta”, assim como o colesterol elevado e a diabetes mellitus, são fatores que podem levar à aterosclerose, e consequentemente à doença coronariana. O colesterol alto, segundo a SBC, atinge quatro entre dez brasileiros adultos, o que representa 60 milhões de pessoas.
Apesar de décadas de avanço no combate à doença, o pesquisador-chefe do Centro de Tecnologias Biomédicas da Universidade Tecnológica de Queensland, na Austrália, Zhiyong Li, diz que as técnicas para prevê-la ainda são limitadas.
“Os ataques cardíacos por doença arterial coronariana são o resultado de uma interação complexa entre o fluxo sanguíneo e a placa em artérias obstruídas. A integração das tecnologias atuais pode melhorar o diagnóstico e permitir o monitoramento do risco da doença para prevenir ataques cardíacos inesperados e salvar vidas”, afirma ele.
Atualmente, o diagnóstico da DAC é feito pela angiotomografia coronariana, que mostra imagens das artérias que fornecem irrigação ao músculo do miocárdio. Mas a ideia é que, agora, duas novas tecnologias auxiliem no diagnóstico. Uma delas é um algoritmo, que construirá um modelo biomecânico do coração do paciente e simulará o fluxo sanguíneo com base nos dados da angiotomografia coronariana.
E a outra é um novo exame de sangue, que determinará o risco de trombose com um chip impresso em 3D – uma réplica reduzida da artéria estreitada de um paciente que requer apenas uma gota de sangue para simular a probabilidade de formar coágulos.
Normalmente, a manifestação da doença arterial coronariana pode surgir com uma dor no peito ligada a atividades de esforço ou estresse — a “angina” de peito. Essa dor acontece por conta de um déficit na irrigação do miocárdio, resultado de uma obstrução parcial da artéria coronária.
Doença cerebrovascular (AVC)
A doença cerebrovascular, mais conhecida por todos como acidente vascular cerebral (AVC), é quando surge um súbito neurológico, decorrente de implicações nos vasos sanguíneos do sistema nervoso.
O AVC pode ser isquêmico quando há obstrução do fluxo sanguíneo dentro de uma artéria cerebral, ou seja, o sangue deixa de correr pela veia. Esse é o tipo mais comum e seu tratamento é feito por desobstrução do vaso cerebral.
Outro tipo é o AVC hemorrágico, causado pela ruptura de um vaso, o que gera hemorragia intracerebral. Neste caso, o tratamento é com a inserção de um cateter no cérebro, com a função aliviar a pressão craniana.
Depois da pandemia de covid-19, os AVCs voltaram a ser a maior causa de morte do Brasil. Um estudo atual sobre o progresso da neurocirurgia nos tratamentos para AVC foi publicado na revista The Lancet e indica que as melhorias estão relacionadas a:
- 1. Rápida tradução das pesquisas em soluções para os pacientes;
- 2. Avaliação neurológica imediata para pacientes com suspeita de AVC;
- 3. Rápida intervenção cirúrgica para pacientes com AVC.
Além disso, entre as progressões mais relevantes dos últimos 20 anos no combate à doença, o artigo destacou o desenvolvimento de exames de neuroimagem cada vez mais avançados, que ampliaram a capacidade médica cirúrgica, e a evolução nas técnicas de reabilitação de pacientes com sequelas neurológicas.