Glauber Rocha
Deus e o Diabo na Terra do Sol, o filme mais importante
de Glauber Rocha, é a primeira obra do diretor a ser
lançada em DVD. A obra, um marco do Cinema Novo, foi
restaurada com tecnologia digital e apresenta três horas
extras, com depoimentos dos atores Othon Bastos e Yoná
Magalhães, cenas de bastidores, galeria com 200 fotos
inéditas das filmagens e comentários de Ismael
Xavier, professor da USP.
O trabalho minucioso de restauração durou dois
meses e incluiu, entre outras coisas, o resgate defotogramas
perdidos e a remixagem do som original - em mono - para dolby
digital 5.1 (no filme) e 2.0 (nos comentários extras).
Ano que vem, os fãs do cineasta terão mais boas
notícias. Está previsto para março o
lançamento de Terra em Transe em DVD. Este título
apresentará quatro minutos inéditos de Glauber
Rocha no set de filmagem.
Morto em 22 de agosto de 1981, Glauber Rocha é, até
hoje, sinônimo de Cinema Novo. Polêmico e criativo,
o artista nascido em Vitória da Conquista (BA), em
1939, teve muitos filmes lançados apenas no exterior,
quando viveu no exílio.
Aqui selecionamos os títulos da obra de Glauber Rocha
que serão lançados em DVD até o final
de 2003, seguindo a ordem prevista para os lançamentos.
Deus
e o Diabo na Terra do Sol (1964) - Com esse filme,
Glauber Rocha tornou-se um dos principais nomes do Cinema
Novo. Segundo longa do diretor, Deus e o Diabo... foi
premiado no México, na Itália e na Argentina.
Perdeu a Palma de Ouro em Cannes por apenas um voto. O filme,
que teve como figurantes os moradores da cidade baiana de
Monte Santo, é uma saga sobre o sertão nordestino.
Obra-prima com influências de Euclides da Cunha, Guimarães
Rosa, Eisenstein, John Ford, Bertold Brecht e Jean-Luc Godard.
Terra
em Transe (1967) - Estrelado por Jardel Filho, Paulo
Autran e José Lewgoy, Terra em Transe foi saudado
como um dos melhores filmes políticos da década.
Paulo Martins, poeta vivido por Jardel Filho, amarga o conflito
entre seus valores morais e suas atitudes políticas.
Difícil para alguns, o filme enaltece o discurso inflamado
dos personagens. Glauber criou um país imaginário
- Eldorado - para debater ideologia, poder e utopia. Premiado
em Cannes, com o Prêmio Luís Buñuel.
O
Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
(1969) - Distribuído no exterior como Antônio
das Mortes, nome do cangaceiro protagonista vivido por
Maurício do Valle, o filme fecha o primeiro ciclo brasileiro
da obra de Glauber Rocha, que voltou a se debruçar
sobre temas sertanejos. Depois dele, o cineasta foi morar
na Europa e em Cuba, passando a filmar no exterior. Também
foi premiado em Cannes, onde Glauber foi aclamado como o melhor
diretor. Recebeu o prêmio do público na Semana
Internacional de Cinema de Autor, em Banalmadema, na Espanha.
Cabeças
Cortadas (1970) - Filmado em Barcelona, na Espanha,
com elenco todo local. Em um castelo, localizado em algum
país do Terceiro Mundo, Diaz vive em delírio,
sonhando com o poder que ele teve em Eldorado (mesmo país
imaginário de Terra em Transe), e oprimindo
índios, trabalhadores e camponeses. Recebeu apenas
um prêmio, o São Saruê, da Federação
de Cineclubes do Rio de Janeiro, nove anos após a sua
estréia na Europa.
A Idade da Terra (1980) - Último filme
de Glauber Rocha, lançado um ano antes da sua morte.
O filme foi o maior fracasso comercial da carreira do diretor.
Ambicioso, tem 160 minutos de duração. A diretora
Tizuka Yamasaki trabalhou como assistente de direção
e comodiretora de produção. A filha mais velha
de Glauber Rocha, Paloma, trabalhou como continuísta
e fez uma participação como atriz. No elenco
estão também Maurício do Valle, Jece
Valadão, Antônio Pitanga, Norma Benguell, Tarcísio
Meira, entre outros. O título foi minuciosamente escolhido,
porque Glauber queria que ele tivesse uma ligação
com Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe.
Barravento
(1961) - Primeiro longa-metragem de Glauber Rocha.
Filmado na Bahia - na praia do Buraquinho, Itapoã e
Vila Flamengo - Barravento é uma homenagem (no
melhor estilo "glauberiano") à cultura popular,
com cenas de samba de roda, capoeira e candomblé. Foi
premiado no Festival de Karlovy, ex-Tchecoslováquia.
Câncer
(1972) - O filme mostra pessoas em conflitos psicológicos
e sociais. Homens e mulheres, polícia e sociedade envolvidos
em violência. Uma curiosidade é que Eduardo Coutinho,
diretor do documentário Edifício Master,
integra o elenco. Além dele, Hélio Oiticica,
o cineasta Zelito Viana (pai do ator Marcos Palmeira), Odete
Lara, Hugo Carvana, Antônio Pitanga, entre outros.
O Leão de Sete Cabeças (1970)
- Filmado no Quênia, apesar de ser ficção,
às vezes apresenta-se como um documentário de
narrativa difícil sobre a cultura africana. Na trilha
sonora, músicas do folclore da África, Baden
Powell e uma versão do hino nacional francês
na interpretação de Clementina de Jesus. O título
original - Der Leone Have Sept Cabezas - apresenta
uma palavra em cada idioma.
Claro (1975) - Filmado em Roma, na Itália,
país em que Glauber Rocha morava na época. O
diretor integra o elenco, ao lado da sua namorada Juliet Berto,
e de Luis Maria Olmedo, Tony Scott, Peter Adarire, e outros.
O filme é um misto de drama e documentário,
com a participação da população
romana.
Fernanda Castello Branco
Redação Terra
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