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"Cine Mambembe" abre os olhos do povo metropolitano
Dirigido por Lais Bodanzky e Luiz Bolognesi, o documentário deste casal de cineastas retrata a viagem dos dois, realizada pelo interior do Brasil, exibindo curtas-metragens brasileiros em praças públicas, entrevistando pessoas que viam cinema pela primeira vez e, ao mesmo tempo, mantinham um primeiro contato com o cinema brasileiro.
Foi entre janeiro a agosto de 1997 que o casal realizou o projeto. Foram quase 15.000 quilômetros, numa viagem que começou em São Paulo, passou por diversas regiões como Bahia, Chapada Diamantina, Rio São Francisco, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Maranhão, além da aldeia dos pataxós na Bahia e dos kraó, em Tocantins, terminando na Amazônia, com uma sessão no assentamento do MST.
Cine Mambembe - O Cinema Descobre o Brasil, resgata o elo entre o povo do interior e o metropolitano. O cinema é a grande ponte entre estes dois mundos. Apesar disso, a linguagem mas não se apóia apenas na fantasia. Ela traz na bagagem uma nova crítica da realidade brasileira.
Desta vez não é o representante da cidade que analisa a vida do matuto, mas este é quem analisa e disseca a personalidade e a vida do morador da cidade. O que se vê não é um povo quieto, manso, mas um grupo contestador e pensante, que resolveu não enfrentar um sistema incontestável.
Os que declaram frente às câmeras não trazem a típica imagem que se tem do povo do sertão: um sonhador iludido com a cidade grande. O que se vê é um povo que escolheu continuar em sua região por não acreditar nesta cidade. Povo inteligente que não se ilude mais com os objetos esquivos encontrados na metrópole.
Os documentaristas realizam um trabalho social forte através da cultura e entretenimento. Uma das grandes qualidades do filme é que um projeto que se realizou a fim de mostrar cinema ao povo brasileiro, traz o "verdadeiro" povo brasileiro às telas do cinema, tão acostumadas a mostrar uma vertente de cidadão que não é o comum, o real.
Entre as produções exibidas nas sessões improvizadas estão títulos nacionais de curta-metragem como A Velha a Fiar, de Humberto Mauro, Coentro e Quiabo na Carne de Sol, de Eduardo Abad, Uma História de Futebol, de Paulo Machiline e Viver a Vida, de Tata Amaral.
O alcance que o projeto conseguiu é realmente surpreendente. Causa emoção assistir crianças que, pela primeira vez, presenciam uma exibição. A identificação rápida do público com o cinema causa conclusões interessantes, que facilmente são expostas à câmera.
Visite site do projeto Cine Mambembe
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