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Trinta Anos esta Noite
de
Louis Malle
Clássico de Louis
Malle realizado em 1963, Trinta Anos Esta Noite mostra a luta de
Alain, o atormentado protagonista, contra seu maior inimigo: ele mesmo.
Inspirado no romance de Pierre Drieu La Rochele, Le Feu Follet
(fogo fátuo), o filme é um resumo das principais reflexões do movimento
existencialista.
A angústia diante da finitude do ser, a aflição com o conformismo burguês,
a insatisfação sexual e a necessidade da ação como antídoto contra o tédio
são temas recorrentes ao longo dos 108 minutos de absoluta densidade,
filosófica e cinematográfica.
Alain (Maurice Ronet) é um homem que chega em frangalhos à meia idade.
Alcoólatra, está há quatro meses internado numa clínica de repouso em
Versalhes. No seu quarto, vivencia o drama da ansiedade perpétua encarando
obsessivamente o cano de uma pistola. "A vida não passa tão rápido para
mim, por isso quero acelerá-la", reflete. Incentivado pelo médico, Alain
arrisca um retorno à vida social, mesmo sem se sentir preparado.
Em Paris, reencontra amigos e acirra os conflitos mais íntimos ao fazer
um balanço de sua vida. O resultado é desastroso e irreversível. Trinta
Anos Esta Noite espelha o retrato de um homem sem fé, incapaz de religar-se
ao mundo, seja através da arte, da política ou da religião.
Com belíssima fotografia
em preto e branco de Ghislain Cloquet, Trinta Anos Esta Noite é
quase um documentário das aflições filosóficas da geração pós segunda
guerra e pré rebelião estudantil, que tinha em Sartre, Marcuse, Reich
e Erich Fromm alguns dos seus principais mentores.
O cineasta Louis Malle equilibra a força do texto a uma estética minimalista,
em que o sentido do drama profundo do personagem está no detalhe, nas
pequenas impressões do cotidiano, pontuada de forma precisa pela utilização
na trilha da música de Erik Satie. Balada da desesperança, Trinta Anos
Esta Noite aborda sem concessões o suicídio, resumindo-o a uma derrota
do conhecimento, da crença e da vontade. Um filme que deixa na alma uma
marca indelével.
LEIA MAIS: Louis Malle
Ricardo Cota, 33, é crítico de cinema
do Jornal do Brasil há oito anos, com passagens pelas revistas Cinemin,
Set, Tabu, Cinema e IstoÉ, além do jornal O Dia. Foi autor dos cursos
Bergman/Woody Allen: Dois Cineastas Face a Face; Huston/Coppola: Os jogadores;
e O Cinema Cantado, Breve História dos Musicais.
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