De Fortaleza a Porto Alegre, o público das principais cidades brasileiras poderá assistir, a partir do dia 17 de agosto, ao novo filme de André Klotzel, Memórias Póstumas. Em Gramado, o longa-metragem baseado no romance de Machado de Assis será exibido, hoje à noite, na programação oficial do 29º Festival de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino.Com um lançamento nacional de 40 cópias, Memórias Póstumas é um dos mais esperados títulos em competição na mostra gramadense. Exibido na sessão Panorama, do Festival Internacional do Filme de Berlim de 2001, o longa foi muito aplaudido pela platéia estrangeira.
"Deu para ver que a brejeirice carioca do filme foi bem aceita pelo público alemão e internacional. O filme tem os condimentos de uma comédia cética à maneira de Machado de Assis, mas ele tem uma melancolia, um sentimento nostálgico e uma seca ironia de que eu gosto muito", diz o também diretor de A Marvada Carne, melhor filme em Gramado em 1985, e de Capitalismo Selvagem, apresentado no festival de 1993.
A adaptação cinematográfica de um dos mais famosos livros do escritor carioca vem romper um longo jejum de longas-metragens na carreira de Klotzel. "Eu não gostaria de deixar que isso tornasse a acontecer, já que os curtas-metragens são esquecidos na obra de um realizador – acredita Klotzel, que dirigiu o premiado curta Brevíssima História das Gentes de Santos (1996).
A escolha de Memórias Póstumas de Brás Cubas deve-se ao fascínio do cineasta pela obra machadiana. Confiante, ele diz que, para quem gosta de Machado de Assis, este é o filme. Klotzel lembra que seu trabalho é bastante diverso das duas outras adaptações da obra, realizadas por Fernando Cony Campos, em Viagem ao Fim do Mundo (1976), e por Júlio Bressane, em Brás Cubas (1986).
Para o diretor, a veia romântica e a veia fantástica de Machado de Assis estão fixadas em Memórias Póstumas. Seus longas anteriores, aliás, já haviam colocado boas doses de romantismo e fantasia como recurso para encantar a platéia. O roteiro acompanha o que acontece depois da morte do personagem Brás Cubas, em 1869. Disposto a se distrair um pouco na eternidade, o protagonista decide narrar sua história destacando os principais fatos de sua vida. Reginaldo Faria faz o papel de Brás Cubas maduro, enquanto Petrônio Gontijo encarna a cínica criatura machadiana em sua juventude.
Co-produção com Portugal, Memórias Póstumas foi rodado em cerca de 60 locações em oito cidades, inclusive Coimbra. O elenco inclui ainda alguns nomes conhecidos do cinema brasileiro, como Marcos Caruso, Stepan Nercessian, Walmor Chagas e Sônia Braga, que faz uma participação especial como Marcela, o grande amor do protagonista. Reginaldo Faria tem chances de faturar seu terceiro Kikito. Ele já foi premiado por Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1978) e A Menina do Lado (1988).
O impulso de Memórias Póstumas colocou André Klotzel em busca de um novo filme. Trata-se de um semidocumentário sobre imigrantes no Brasil, feito em parceria com o Museu de Pesquisa da Pessoa, coordenado por Julio Wolkman. O roteiro terá o toque de José Roberto Torero, que escreveu os diálogos de Memórias Póstumas.
Klotzel adianta que o projeto ainda demorará a ser concretizado e faz mistério: "Está tudo muito embrionário. Vamos deixar para falar dele depois da estréia de Memórias Póstumas".
Obras de Machado nas telas:
1961 – Esse Rio que eu Amo, de Carlos Hugo Christensen
1967 – Viagem ao Fim do Mundo, de Fernando Cony Camposs
1967 – Capitu, de Paulo César Saraceni
1969 – Azyllo Muito Louco, de Nelson Pereira dos Santos
1974 – Cartomante, de Marcos Farias
1974 – O Homem Célebre, de Miguel Faria Jr.
1976 – Confissões de uma Viúva Moça, de Adnor Pitanga
1977 – Iaiá Garcia – Que Estranha Maneira de Amar, de Geraldo Vietri
1986 – Brás Cubas, de Julio Bressane
1987 – Quincas Borba, de Roberto Santos
1995 – Causa Secreta, de Sérgio Bianchi