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São Paulo - Para a sorte de todas as outras produções presentes no Anima Mundi 2000 o filme russo O Velho e O Mar, de Alexander Petrov, não está na mostra competitiva. Apesar de cada uma das produções inscritas ter sua beleza individual, única e original, não é um risco dizer que o filme, baseado na obra do escritor americano Ernest Hemingway, é o que há de mais deslumbrante, visual e profissionalmente, no festival. Os "ohh" emitidos pela platéia na sessão de abertura do evento, ontem no MIS, foram uma prova disso. Se competisse, Petrov fatalmente levaria o prêmio de melhor filme, como já fez no Festival Francês de Annecy, que é o maior do gênero no mundo, e na premiação para melhor animação do último Oscar. "Eu já havia lido o livro há bastante tempo, e fiquei apaixonado pela obra. Decidi que um dia iria fazer o filme", contou o diretor Petrov. A produção não usa computação gráfica e levou dois anos, mais um ano de montagem. A técnica é impressionante e impressionista. Cada quadro do filme é uma obra de arte pintada a base de tinta siliconada sobre vidro. As mudanças para os quadros seguintes são repintadas no próprio vidro ou numa outra camada, detalhadamente. Os fadings, por exemplo, foram realizados pela maior ou menor exposição dessas telas vitrais à luz. As camadas sobrepostas na mesa de luz geraram imagens que foram fixadas em película de 70 mm, muito maior que as de 35 mm ou 16mm, geralmente usadas para cinema, resultando num visual dos movimentos e cenários muito mais luminosos e impactantes (nos EUA, o filme foi projetado em cinemas de telas especiais, para garantir o impacto da técnica integralmente, o que não ocorrerá no Brasil). A pena é que cada uma dessas majestosas cenas teve vida efêmera – sobreviveu somente para compôr as cenas e nada mais. A montagem e dublagem foi feita em 1998 e, no ano seguinte, no centenário do escritor americano, Petrov presenteou o mundo com sua obra. Segundo ele, o mais difícil na produção não foi de fato a arte. "Eu não queria sair do que o autor escreveu, mas queria, ao mesmo tempo, colocar algo da minha linguagem no roteiro. Essa foi a maior tarefa: adaptar a história do livro para o filme", disse o diretor. Desse modo, há no filme, assim como no livro, o prelúdio do Velho conversando com o garoto Santiago sobre sua derrocada depois de idoso. E a história é conduzida pelas elocubrações do Velho em alto mar e seu "diálogo" com o peixe resistente, acompanhada pelos seus encantos visuais, seus sonhos, e suas recordações da juventude. John Sturges, que dirigiu Spencer Tracy como o Velho em 1958 na primeira adaptação do clássico para o cinema, e a produção televisiva que contou com Anthony Quinn como protagonista em 1990, não conseguiram dar tamanho lirismo ao trabalho do escritor americano. Nada se compara e, ainda que a tecnologia cinematográfica avance a cada ano, parece pouco provável que alguém consiga realizar o que Petrov realizou. E numa temporada em que povoam os cinemas produções como Dinossauros, Pokémon e O Caminho Para El Dorado - produções que nada acrescentam de novo ao mundo da animação - é revoltante que as distribuidoras brasileiras não tenham a mínima intenção de exibir, a exemplo dos EUA, O Velho e O Mar por aqui. Fica a chance de assistir a esta obra prima no Anima Mundi. Imperdível. O Velho e O Mar. 8º Festival Internacional de Animação do Brasil. Dia 28, sexta, às 19h no Museu da Imagem e do Som, avenida Europa, 158, Jardim Europa. Tel.: 11 852-9197. Dia 29, sábado, às 20h30 e dia 30, domingo, às 19h no Centro Cultural Fiesp, avenida Paulista, 1.313, Cerqueira César. Tel.: 284-3639. Duração: 40 minutos.
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