A diretora Ana Carolina Teixeira Soares chega ao seu oitavo longa-metragem com um filme atípico em sua carreira, Gregório de Mattos, uma mescla de recital, documentário e biografia do poeta baiano do século 17. O projeto é ainda valorizado pela interpretação do poeta Waly Salomão na pele de Gregório de Mattos e pela bela fotografia de Rodolfo Sanchez.
"O filme é complicado, mas eu estou muito acostumada em andar por mares complicados. A minha vida nunca foi um mar de rosas", disse a diretora em entrevista recente. "Eu faço das tripas coração, vivo um sonho de valsa e não sou uma Amélia", afirmou, brincando com o título e seus últimos quatro filmes.
"Eu corro numa pista cult. Isso me dá uma certa liberdade de entrar nos cinemas sem a responsabilidade de estourar a bilheteria".
Ana Carolina não concorda com a visão de alguns críticos que a classificam como autora de uma obra mais feminina. "Eu faço principalmente reflexões sobre o poder, que não é uma questão feminina, mas uma questão da minoria. A minoria é que está preocupada com reflexões sobre o poder", respondeu.
Gregório de Mattos nasceu de um projeto de curta-metragem aprovado num concurso do BNDES, mas que ganhou fôlego maior com a participação de várias empresas baianas que financiaram o projeto com base nas leis de incentivo à cultura.
O objetivo nunca foi o de fazer um documentário ou uma biografia do poeta baiano, principalmente pela falta de material biográfico do personagem conhecido como o Boca do Inferno por sua língua viperina usada contra os políticos e religiosos da época.
Dessa forma, Gregório de Mattos é o marco zero da formulação do perfil do brasileiro do ponto de vista poético, dramático e literário. "Ele é a gênese da identidade brasileira", disse a diretora.
Por ter poucos recursos, Ana Carolina fez o filme em apenas 10 dias, com locações no Rio de Janeiro e em Niterói. O filme, segundo a diretora, custou menos de 400 mil reais.