"Cidade de Deus é veneno e Uma Onda no Ar, o soro". A frase é de Misael Avelino dos Santos, criador da Rádio Favela de Belo Horizonte, que inspirou o filme de Hevelcio Ratton sobre a emissora pirata que sofreu perseguições na década de 1980 e que estréia nesta sexta-feira. "Andam comparando muito Cidade de Deus com Uma Onda no Ar. Mas o Cidade termina ao som de tiros e Uma Onda carrega o som da vitória", afirmou Santos após uma sessão especial do longa-metragem para os candidatos à Presidência, na quarta-feira em São Paulo.
Em sua observação, Santos ressalta que, enquanto a produção de Katia Lund e Fernando Meirelles mostra o tráfico de drogas derrubando os personagens um a um, Uma Onda no Ar busca transmitir uma mensagem positiva sobre iniciativas criadas nas comunidades pobres.
Uma Onda já foi exibido no último Festival de Gramado e recebeu um Kikito pela atuação de Alexandre Moreno no papel do fictício Jorge, que representa Santos.
Até se tornar conhecida e receber um prêmio das Nações Unidas, a Rádio Favela foi vítima de repressão por causa do conteúdo político de suas transmissões e chegou a sofrer mais de 100 batidas policiais. A emissora funcionava no mesmo horário do programa estatal A Voz do Brasil, mas que este ano ganhou concessão para se tornar rádio educativa.
"Apanhar de polícia na realidade não é como no filme. Se fosse, aguentava mais uns 20 anos", afirmou Santos, revelando ter inúmeras cicatrizes no corpo em consequência dos confrontos daquela época.
Hevelcio Ratton, também presente no evento dos presidenciáveis, afirmou que o processo de produção de Uma Onda no Ar não foi cem por cento tranquilo e que "as parcerias entre o morro e a cidade são sempre difíceis".
"No começo, olhei torto para o Misael e ele olhou torto para mim também. Mas, no final tudo deu certo e ele entregou de coração aberto a sua história", comentou o diretor.
O ator Babu Santana, que interpreta o personagem Roque, que acaba entrando para o tráfico de drogas, afirma que Uma Onda no Ar cumpre uma função social importante.
"Metade do que o filme tinha que cumprir, ele cumpriu. Deu dignidade à favela e às pessoas que moram lá", disse Santana.
"Agora a meta é arranjar apoio e mostrar o filme para todos os que não podem assisti-lo no cinema e fazem parte das favelas".