Depois dos EUA, Europa volta a ser “bola da vez” do mundo financeiro

O principal índice de ações brasileiro, o Ibovespa, reviveu os piores momentos da crise econômica iniciada em 2008 e, em 4 de agosto desse ano, caiu 5,72%, para 52.811 pontos. Mesmo superada a crise da dívida americana (o governo dos EUA conseguiu aprovar uma proposta que autorizou um novo teto de gastos públicos, que já estava no limite), tanto o mercado paulista como o de outros países continuou caindo. Segundo analistas, não há fôlego entre uma crise e outra, já que os olhos agora se voltam para a ainda cambaleante Europa.

A avaliação é de que tanto o pacote de 109 bilhões de euros para resgate à Grécia quanto o aval legislativo para aumentar o teto da dívida americana, definido no dia 2 de agosto, são remendos de curto prazo que não aliviam os receios com o que realmente importa: o perigo de a economia global voltar à recessão, combinada com uma crise bancária europeia.

"O grau de improvisação nas soluções encontradas até agora ficou patente", disse Paulo Rabello de Castro, sócio da RC Consultores. "Os mercados estão percebendo que o nível de munição dos governos diminuiu."

O cenário é tão preocupante, que, em busca por alternativas para conter a crise da dívida europeia, o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero, suspendeu suas férias e anunciou no dia 5 de agosto reuniões com a equipe de governo. Além do espanhol, líderes políticos da França, da Alemanha e de Portugal intensificaram as negociações para chegar a medidas que melhorem a perspectiva da economia do continente.

Desde maio de 2008, quando o banco americano Lehman Brothers quebrou e desencadeou a crise financeira global, a Bovespa tem sentido a pressão do mercado internacional, repercutindo, principalmente, as tendências do mercado acionário dos EUA.

De acordo com o economista da corretora Legan Asset, Fausto Gouveia, enquanto os países europeus endividados como Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha não equacionarem sua saúde fiscal, o desemprego continuará alto e o desaquecimento econômico influenciará no preço das commodities, que exercem grande pressão na bolsa paulista.

Fausto também alerta para o crescimento "surreal" da economia chinesa. "Nós acompanhamos de perto a China, e se houver uma queda do consumo no país ou outra razão qualquer, a Bovespa vai sentir", afirma.

Segundo o analista-chefe da XP Investimentos, Rossano Oltramari, o Ibovespa está “andando de lado”, oscilando entre 60 mil e 70 mil pontos com a indefinição do cenário global. “Mesmo que agora as ações das empresas estejam muito baratas, a ação ainda é um ativo de risco. Jogar na defensiva é a melhor estratégia”, afirma.

Para Fernando Góes, analista da Rico, sistema homebroker da corretora Octo, as notícias econômicas externas devem continuar a segurar o índice, mas resultados internos também podem influenciar. "Desde a saída do (presidente Roger) Agnelli da Vale, a companhia vem perdendo valor, assim como a Petrobras 'afundou' e não recupera", diz. De acordo com o analista, também as medidas tomadas pelo governo para tentar frear a desvalorização do dólar em relação ao real não estão agradando o mercado, e se continuarem a intervir no funcionamento da economia, devem cair como uma "bomba interna" na pontuação da Bovespa.