Renner se afasta do fast-fashion e tenta esticar ciclo de vida de suas roupas
Além de ter comprado brechó para revenda de peças usadas, empresa busca certificações de matéria-prima e energia renovável: empresa ficou em 1º lugar entre varejistas no índice Dow Jones de sustentabilidade
A Lojas Renner, uma das pioneiras no Brasil em lojas de departamento, setor imerso no conceito chamado de fast-fashion, quer demonstrar que esse não é o seu filão de negócio. Com a aposta em trazer a economia circular para dentro de suas lojas, a companhia quer se afastar do "fast" para se aproximar da sustentabilidade. Para isso, além de garantir que seus produtos não virem lixo em pouco tempo - como acontece com as roupas que duram uma só estação -, a companhia está investindo também em energia renovável.
Apesar de atuar com o modelo de lojas de departamento, a Renner quer provar que não é sinônimo de "moda rápida". "Nosso modelo segue a demanda, não somos fast-fashion, que produz com baixa qualidade e preços mais baixos", afirma o presidente da Renner, Fabio Faccio. Uma das frentes da atuação da empresa é o uso do algodão certificado, de fornecedores com selo de atuação socioambiental. "Olhamos todo o processo, tanto no uso dos recursos quanto na remuneração e condições de trabalho", afirma o executivo.
O desafio é evoluir num mercado muito poluente e de grande impacto ambiental. Dados da consultoria thredUp apontam que, na produção de uma camiseta, são utilizados 700 galões de água. Além disso, a consultoria afirma que uma em cada duas pessoas jogam suas roupas indesejadas direto no lixo.
No caso da Renner, o planejamento é acelerar a jornada ESG (sigla em inglês para atuação ambiental, social e governança). Os primeiros frutos já estão sendo colhidos. A empresa acaba de apresentar a maior pontuação entre as varejistas em todo o mundo no índice Dow Jones de sustentabilidade, referência global na avaliação de ações ESG de empresas de capital aberto. "Isso nos mostra que estamos no caminho certo", comenta Faccio.
Pós-venda
Além do uso de energia limpa pela companhia, a empresa também diz acompanhar o pós-venda das roupas, de forma a ampliar o ciclo de vida de cada peça pela revenda ou pela reciclagem do material. "Ainda há várias coisas que podemos fazer. Trabalhamos muito com o uso de dados, para sermos assertivos na produção e fabricar apenas o que é necessário. Outro ponto é fazer com que a cadeia seja mais bem remunerada", aponta o executivo.
Para dar um passo rumo à economia circular, a Renner abriu uma loja no Rio de Janeiro com esse conceito. Outra avenida nesse sentido é o recém-adquirido brechó online Repassa. Segundo ele, a marca de maior participação no brechó é da própria Renner, o que mostra que as peças da marca têm boa durabilidade. "Com o Repassa, poderemos esticar ainda mais o ciclo de vida das nossas roupas", comenta.
A posição no índice Dow Jones de sustentabilidade, segundo o presidente da Renner, teve o suporte de metas ESG estabelecidas pela empresa em 2018. Segundo ele, as metas, que tinham como prazo o fim deste ano, devem ser superadas. "Uma das metas que já atingimos é ter 100% da nossa cadeia de fornecimento com certificação socioambiental. Os compromissos públicos nos trazem engajamento ainda maior do time", afirma.
Em 2018, além da meta da certificação da cadeia, a companhia assumiu quatro compromissos para o fim de 2021: ter 80% dos produtos com menos impactos ambientais, sendo 100% do algodão certificado; suprir 75% do consumo corporativo de energia com fontes renováveis de baixo impacto; reduzir em 20% as emissões de gás carbônico em relação aos níveis de 2017.
Sócia da XP responsável pela cobertura ESG, Marcella Ungaretti frisa que mesmo as empresas bem posicionadas no índice Dow Jones de sustentabilidade ainda têm espaço para evolução. "O ESG é uma jornada, e não uma questão binária ou estacionária. Nesse sentido, vemos as companhias bem posicionadas nessa agenda como as vencedoras do futuro, enquanto aquelas que não priorizarem a temática ficarão para trás", afirma.