Duas semanas se passaram desde que foi revelada, nesta coluna, a
dramática carta distribuída pela ex-jogadora Keli, vítima de uma grave
contusão que a afastou das quadras e lhe provocou um câncer no cérebro.
Desde então, já foram publicadas reportagens sobre o caso no diário Lance! e
na Folha de S.Paulo. Antes ainda, foi tema de discussão neste Terra. E,
apesar de todo o barulho, o mundo do basquete brasileiro permanece calado, estático, morto, como se nada tivesse acontecido.
Não se trata aqui, como já foi dito antes, de achar culpados. Mas de procurar e oferecer ajuda. Mesmo a Federação Paulista de Basquete, duramente criticada pela jogadora, deixou uma porta aberta para que ela pudesse se retratar, se for o caso, e conseguir algum tipo de apoio. Foi o máximo que Keli conseguiu. Menos do que uma moedinha que se dá de esmola nos semáforos das grandes cidades.
É incrível como as "autoridades " do basquete se escondem quando mais se precisa delas. Posso estar enganado, ou até mesmo sendo injusto. Mas até agora não soube de nenhuma reação da Confederação Brasileira de Basquete, que já deveria ter agido em defesa da jogadora. Ao menos, procurado dar algum tipo de auxílio e não deixá-la abandonada e à mercê da atos de caridade.
Afinal, é de responsabilidade da CBB a estrutura atual do basquete
brasileiro. Com clubes falidos, as jogadoras são, na maioria das vezes,
obrigados a defender o seu pão, a sair à caça de patrocinador. Foi o que fez
Karina, ao se aliar a uma empresa e montar o time no qual jogava Keli.
Depois, o patrocinador foi embora, o time acabou e ninguém mais ficou
responsável por nada. Típico do Brasil.
É inacreditável ainda como as demais jogadoras também não
demonstraram um pingo de solidariedade. Isso poderia ter acontecido com
qualquer uma delas. Mas também preferiram se esconder, fazer de conta de que
nada aconteceu. É cada uma por si e seja lá o que Deus quiser.
As poucas jogadoras que restam no basquete brasileiro deveriam ter se
unido. Deveriam exigir que os dirigentes lhe dessem garantias, para que
casos como o de Keli não se repitam. Porque, desta maneira, quem garante que
as atletas estarão livres deste pesadelo no futuro?
Deveria haver também uma legislação esportivas mais específica, que
deixasse claro de quem é a responsabilidade da equipe. Hoje em dia, quem
consegue um bom salário ou já tem algum pé-de-meia pode respirar um pouco
mais aliviado. Os outros, estão entregues aos abutres.
É preciso também dar um basta nesta história de esporte amador. O
basquete deixou, há muitos anos, de ser uma atividade amadora. Precisa ser
tratado de forma profissional, desde os dirigentes de federações até os
clubes.
Enfim, chega de hipocrisia. Chega de tapar o sol com a peneira. Ou se
inicia uma reformulação estrutural urgente urgentíssima, ou casos como o de
Keli passarão a ser tratados como rotina no Brasil, com desprezo das
autoridades e indiferença da "classe" dos atletas.