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Logo Magnet O que é arte e o que é propaganda?

Sexta, 09 de agosto de 2002, 18h05

"Hoje, Egoscópio está buscando roupas, um bicho de estimação e uma obra de arte; amanhã ele estará buscando comida e bebida", descreve Giselle Beiguelman, participante do FILE (Festival Internacional de Linguagens Eletrônicas, que ocorre próxima semana no Sesc Vila Mariana. A "criatura" de Beiguelman, Egoscópio, é um "não-sujeito, uma personalidade mutante sem sexo e sem idade e construído pela mídia". Egoscópio consumirá o que o internauta decidir, através do site do projeto. Clicando em "teleintervenção", o internauta decide qual a roupa, bicho de estimação ou obra de arte que Egoscópio terá e centenas de motoristas na Avenida Faria Lima em São Paulo verão Egoscópio acatando a sugestão dos internautas. O site tem ainda webcams para acompanhar o estado atual de Egoscópio.

O trabalho de Giselle faz com que a arte eletrônica invada um espaço destinado tradicionalmente a propagandas altamente disputadas no horário do rush na avenida Faria Lima. O que acontece com Egoscópio no painel não é muito diferente do que acontece com a arte digital na Internet, filha de formatos ambíguos normalmente usados como escape de criatividade da propaganda online. "O que é a arte e o que é a propaganda?", pergunta Beiguelman. "Antigamente era muito mais fácil discernir forma e conteúdo como uma carta de um jornal, por exemplo", lembra a artista. "Online, qual a diferença?", pergunta Giselle. "A mídia digital é híbrida, democratiza os formatos, a arte digital só se define pela maneira como a interface é construída".

Antes de Egoscópio, Beiguelman participou da Bienal com "Ces't nes pas un pipe/Ces't nes pas un Nike" onde a imagem do cachimbo de Magritte e a imagem de um tênis Nike eram sujeitas à deformação. "Cada trabalho meu explora um aspecto diferente da cultura digital, o trabalho da Bienal era uma crítica ao próprio formato da nossa exposição, que via a Internet apenas como superfície, colocando os trabalhos para serem vistos apenas em alguns computadores", afirma Giselle. A artista concorda com outros participantes do FILE como Gian Zelada e diz que "tem vários modos de promover a arte eletrônica mais interessantes mas achei importante ter participado de qualquer modo desde que a proposta fosse crítica". Giselle Beiguelman é professora de pós-graduação do núcleo de Semiótica da PUC-SP, espaço que formou artistas como Lúcia Leão e outros. Egoscópio foi tema de reportagem no NY Times. Giselle já teve seus trabalhos comentados também no The Guardian e na Deutsche Welle.

Renata Aquino

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