Fotos: Roberto Figueiroa e Larissa Dueire



 
Dona Margarida Pereira e os Fulanos
Música pra beltranos e sicranos

por Gilson Oliveira



"Bota uma banda de rap, tem o maior groove". A frase, pronunciada pelo cantor e compositor Chico Science, ficou na cabeça de Salvador, futuro vocalista da também futura banda Dona Margarida Pereira e os Fulanos, somando-se a outras frases e estímulos para que ele formasse um grupo musical. O papo entre Chico e Salvador aconteceu numa das animadas noites do ano da graça de 1994, período em que o Recife, depois de um longo marasmo cultural, estava sendo alegremente sacudido pelos agitos iniciais de um movimento que ficaria famoso com o nome de MANGUE BEAT.

 À época, um dos principais pontos de encontro daqueles que curtiam e produziam as novidades musicais da cidade era o Frank's Drinks, no Recife Antigo, bar que tempos depois seria devorado pelas chamas de um incêndio que não estava nem no gibi de Nostradamus. Assim como Salvador, outros músicos gravitavam em torno do sinistrado templo da música de feição vanguardista, também sonhando com a criação de uma banda e colecionando frases e estímulos.

BANDA SURGE DE UM DIA PARA O OUTRO - Um belo dia os ilustres e desconhecidos artistas se encontraram e, após frases e estímulos - dessa vez trocados entre eles mesmos - surgiu a banda Dona Margarida Pereira e os Fulanos, a popular DMP. E surgiu, literalmente, de um dia para o outro, plasmada de idealismo e tesão. Basta dizer que entre o primeiro ensaio e a primeira apresentação se passaram pouco mais de 24 horas.

A estréia, verdadeiro batismo de fogo, se deu com um repertório formado por composições dos integrantes do grupo, cheias de improviso. O show foi durante a primeira edição do REC-BEAT, aberto exatamente por uma banda de nome extremamente estranho, mas que foi pouco a pouco soando de forma familiar entre os fissurados em pesquisas e experiências sonoras.

E POR FALAR EM ANTENA PARABÓLICA ... - Surgida no mesmo período em que brotaram outras bandas que desenhariam a multifacetada cena atual da música pernambucana - como o Paulo Francis Vai Pro Céu, Devotos do Ódio e Faces do Subúrbio -, a DMP não seguiria ao pé da letra o conselho de Chico Science, de ser "uma banda de rap", mas acataria as sugestões de outros artistas, principalmente dos seus próprios integrantes, e viajaria por todos os ritmos e possibilidades sonoras, antenada com o Brasil e o resto do mundo.

"A banda tem evoluído essa tendência e hoje o nosso som inclui música lounge, eletrônica, rock, funk, soul black, hip-hop, jazz, drum bass e muitos outros ritmos e concepções, inclusive MPB, com a qual namoramos há muitos anos, tendo inserido no nosso primeiro disco samplers de João Gilberto, Caetano Velozo e Gal Costa", diz André Frank, guitarrista e vocalista do grupo, formado ainda por Chiquinho (vocal), Igor (baixo, teclado, sampler e programação), Mr. Jam (bateria e percussão), Dodô (DJ) e Salvador.

Batizada em homenagem a uma poetisa de Jardim Brasil II, em Olinda (Margarida Pereira, editora do jornalzinho do bairro), e em alusão a uma canção dos Racionais MCs ("Sindicato dos Fulanos"), a banda, devido ao ecletismo e a total liberdade criadora, produz um som que atinge também beltranos e sicranos ( palavras que, como "fulanos", referem-se a pessoas indeterminadas, a ilustres desconhecidos que, por isso mesmo, simbolizam a totalidade e a diversidade humana). Ou seja, a DMP produz um som sem fronteiras, que pode agradar, seguindo a mesma linha de raciocínio, também a "gregos e troianos". Desde que estes, obviamente, estejam sintonizados com a alquimia rítmica e a busca de novidades.

Foi o caso do público de Curitiba, onde a banda se apresentou há pouco tempo, no Café Beatrice, dividindo o palco com um grupo local. O sucesso alcançado levou o grupo a dar entrevistas em emissoras de rádio e a vender muitas cópias do seu primeiro disco, MÚSICA PRA PULAR BRASILEIRA. A excursão pelo Sul e Centro-Sul do País terminou em São Paulo, onde a DMP fez o show de encerramento de um festival punk realizado no Hangar 110.

Apresentações em Pernambuco, num leque que tem abrangido cidades como Olinda e Garanhuns, além de uma "obrigatória" passagem pelo Pina de Copacabana - o novo "point" da juventude no Recife Antigo -, têm marcado nos últimos tempos a agenda da DMP, cujo maior projeto nessa linha é a realização, no próximo ano, de um grande show solo, onde fará um balanço do que produziu até agora e apresentará um conjunto de novas novidades. Enquanto isso, o grupo vai gravando, calmamente, as canções do segundo CD. "O disco deve sair nos primeiros meses do ano 2000 e trará mais gravações que o primeiro", adianta Chiquinho.



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