Pansexuais contam como descobriram orientação sexual
Perguntas preconceituosas e confusão com bissexualidade são bastante comuns
Embora sempre tenha existido, foi necessário que famosos como Miley Cyrus, Demi Lovato, Boca Rosa e Reynaldo Gianecchini se declararassem pansexuais para o assunto virar alvo de debate. O conceito de pansexualidade, na verdade, não é nada novo: o psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939), considerado o "pai da psicanálise", há mais de um século já apresentava teorias sobre a possiblidade de sentir atração física e romântica por pessoas independentemente do gênero.
O fato é que, além das celebridades, influencers que falam abertamente sobre diversidade têm contribuído para tirar da pansexualidade os vestígios de preconceito e desinformação que ainda cercam o tema. Terra NÓS conversou com dois deles sobre como se descobriram pansexuais e a confusão inicial foi uma vivência comum antes de assumirem a orientação sexual.
Para a publicitária e consultora de diversidade Anna Castanha, 36 anos, o start começou na época de faculdade ao escrever uma monografia sobre diversidade de gênero. "Pude entender, entre outras coisas, que gênero não só é uma construção cultural como existem possibilidades infinitas de interações e orientações que não eram tão faladas na época", conta.
Até aí, Anna acreditava que era bissexual, pois sentia atração por homens e mulheres da mesma forma. Ao conhecer melhor a definição de pansexual, compreendeu a si mesma de uma maneira mai completa: "É isso o que eu sou, pensei", recorda.
A partir desse momento, Anna segue ouvindo os mesmos questionamentos, perguntas e piadinhas comuns a outras pessoas pansexuais. O mito mais clichê é de que a pansexualidade envolve "transar com árvores". Esta lenda tem origem em uma declaração equivocada do cantor Serguei (1933-2019) sobre ser pansexual e fazer sexo com árvores. "O termo 'pan', na verdade, significa totalidade e serve para abraçar homens e mulheres cis, pessoas não binárias, trans, travestis, pessoas agênero ou de gênero fluido", explica Anna, que costuma falar a respeito do tema em suas palestras sobre diversidade.
Empoderamento e rótulos
"Sexualidade é algo muito pessoal. Cada um define a sua como bem quiser", pontua o influenciador Rafa Brunelli, de 30 anos, que em suas redes compartilha conteúdos sob a perspectiva de um homem pansexual com deficiência. Rafa nasceu com neurofibromatose que, conforme costuma explicar aos seguidores, consiste em um distúrbio genético que produz pequenas bolas de gordura sob a pele. No caso dele gerou uma escoliose em C, além de lordose e cifose.
O influencer discorre com a mesma naturalidade sobre sua deficiência e sua orientação sexual. "Porém, como a deficiência é algo visual, é fácil entender o que estou falando. Já a pansexualidade é um conceito e é difícil para quem tem uma visão mais conservadora e binária compreender de que se trata", explica ele, que também ministra palestras sobre o tema e em 2023 pretende colocar em prática projetos que reúnem acessibilidade e cultura.
"Durante muito tempo me entendi como gay, principalmente por ser um homem mais afeminado. Depois passei a achar que era bissexual, mas, à medida que fui me conhecendo melhor e me empoderando dos meus afetos, da minha mente e do meu corpo, me entendi como pansexual. Me conecto com a personalidade e não com gêneros ou genitálias", explica.
Embora reconheça a importância de personalidades falarem abertamente sobre o assunto, principalmente para que a comunidade LBGTQIAP+ se sinta representada, Rafa é contra forçar as pessoas a saírem do armário, principalmente se essa pressão surge na imprensa. "Em muitos casos, a pessoa ainda está se entendendo e descobrindo, cada processo é muito pessoal e particular e tentar rotular é algo precoce, até porque a sexualidade é um grande guarda-chuva de possibilidades", afirma.