Pessoas com deficiência na catástrofe do Rio Grande do Sul
Episódio 140 da coluna Vencer Limites, que vai ao ar toda terça-feira, às 7h20, ao vivo, no Jornal Eldorado, da Rádio Eldorado (FM 107,3 SP).
A catástrofe das últimas semanas no Rio Grande do Sul, que acompanhamos na TV, rádio, portais de notícias e redes sociais, não deixa dúvidas sobre o impacto real da crise climática em todo o mundo.
Pessoas com deficiência, mais uma vez, permanecem na invisibilidade. Instituições tentam reunir informações, mas tem sido bastante difícil quantificar esse grupo e identificar as necessidades urgentes.
O Instituto Social Pertence, de Porto Alegre, faz atualmente um mapeamento centralizado em acessibilidade arquitetônica e de comunicação, e também em órteses, próteses e meios de locomoção perdidos na região, como cadeiras de rodas, andadores, muletas e bengalas.
A entidade tenta organizar dados sobre insumos que as famílias precisam, como comidas sem glúten ou lactose, lenços umedecidos e fraldas de todos os tamanhos, baldes, vassouras, água, colchão, cobertores, toalhas de banho, lanches com carboidrato e hipercalóricos.
O instituto já somou 1.236 famílias cadastradas em instituições especializadas, sendo 382 atingidas pelas enchentes. A maior parte é formada por gente com deficiência intelectual e todas as entidades afirmam precisar de ajuda.
"O primeiro movimento é um mapeamento para entender onde estão as pessoas com deficiência, nas próprias casas, na casa de amigos, abrigados em vizinhos, em abrigos especializados para pessoas com deficiência, abrigos gerais da cidade ou em instituições voltadas para pessoas com deficiência. Entender a necessidade específica daquela pessoa e da sua família", diz Victor Freiberg, fundador do Instituto Social Pertence.
"Os dados já estavam defasados antes da tragédia e tudo se torna mais difícil agora. Contamos com voluntários que possam se deslocar para fazer uma triagem em todos os municípios", explica.
"Outro grande desafio são os espaços capacitados para pessoas com deficiência. Em Porto Alegre temos alguns abrigos voltados para crianças autistas, mas precisamos de locais para jovens adultos e seus familiares. Procuramos prédios locais que possam abrigar essas pessoas por um longo período, de seis a oito meses", afirma Freiberg.
Específico - O atendimento a pessoas com deficiência, principalmente com deficiência intelectual, exige cuidado médico e psicológico específico.
"Pessoas com transtorno do espectro autista, níveis 1, 2 ou 3 de suporte, têm no seu perfil a rigidez de pensamento e uma disfunção sensorial. Essas duas condições podem desencadear crises graves e desorganizar em cascata tanto o ambiente no qual eles estão inseridos como também outros autistas que estejam por perto", explica Maria Isabel Pinheiro, psicóloga do Grupo Treini, doutora em saúde da criança e do adolescente.
"Antecipação por meio de agendas escritas, com programas ou orientações e esclarecimentos verbais pode contribuir para reduzir a crise de desorganização. É indicado, neste momento, buscar por espaços mais silenciosos e tranquilos, manter uma alimentação mais próxima à sua rotina anterior e buscar acesso ou contato com pessoas mais próximas, familiares, aquelas pessoas que anteriormente organizavam mais esse indivíduo, manter mais contato com brinquedos ou objetos que anteriormente eram objetos ou brinquedos de preferência dessa pessoa", sugere a especialista.
Ilhados - A Associação RS Paradesporto, também de Porto Alegre, elaborou um questionário de prejuízos, enviado aos associados e também para familiares e amigos de pessoas com deficiência.
A presidente da instituição, Cintia Florit Moura, reside na zona rural de Eldorado do Sul, que foi parcialmente atingida.
"Minha casa é segura. Tivemos desabastecimento, mas estamos bem. Estou ajudando outro abrigo perto de casa que não tem ninguém com deficiência no momento. Estamos ilhados, recuperamos o acesso à Internet no último fim de semana e voltei a me comunicar com os associados. Aqui, a estrada caiu no dia 30 de abril, já com as chuvas. Então, começou mais cedo, ficamos sem comunicação mais cedo", conta Cintia.