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Ataque de Bolsonaro a repórter é 'tentativa de calar mulheres e prejudicar imprensa', diz organização internacional

International Women's Media Foundation pede que autoridades 'cessem os ataques imediatamente' contra a jornalista Patrícia Campos Mello.

18 fev 2020 - 20h45
(atualizado em 19/2/2020 às 06h16)
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O presidente Jair Bolsonaro ofendeu a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, nesta terça-feira
O presidente Jair Bolsonaro ofendeu a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, nesta terça-feira
Foto: Reuters / BBC News Brasil

As ofensas proferidas nesta terça-feira (18) pelo presidente Jair Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, foram repudiadas pela International Women's Media Foundation, organização com sede nos Estados Unidos que atua para fortalecer o trabalho de jornalistas mulheres no mundo.

Em nota, a diretora-executiva da organização, Elisa Lees Muñoz, disse que estava "profundamente preocupada" com a jornalista e pediu que as autoridades brasileiras "cessem os ataques imediatamente".

"Jornalistas devem poder fazer seu trabalho sem medo de retaliação", afirmou também.

Nesta manhã, durante uma entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que a repórter "queria dar o furo a qualquer preço contra mim".

O ataque foi feito após um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp dizer, sem apresentar qualquer prova, que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações. A declaração ocorreu na semana passada, durante depoimento do ex-funcionário à CPMI das Fake News no Congresso, e foi endossada na ocasião também pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

No comunicado em apoio à jornalista, a organização internacional destaca que essas falsas acusações provocaram uma "uma avalanche de ataques mordazes contra Campos Mello nas mídias sociais, incentivados e contribuídos pelas mais altas lideranças do Brasil, incluindo o presidente e seu filho".

'O mito de que mulheres jornalistas trocam sexo por dinheiro está impregnado nas culturas há décadas', aponta diretora da International Women's Media Foundation
'O mito de que mulheres jornalistas trocam sexo por dinheiro está impregnado nas culturas há décadas', aponta diretora da International Women's Media Foundation
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Esses ataques não apenas colocam em risco a segurança de jornalistas como Campos Mello, mas tentam silenciar as vozes das mulheres e prejudicar a liberdade de imprensa. Estamos com Campos Mello e imploramos às lideranças brasileiras que parem seus esforços para censurar a imprensa", diz Muñoz.

"Infelizmente, esses tipos de ataques de gênero são familiares demais. O mito de que mulheres jornalistas trocam sexo por dinheiro está impregnado nas culturas há décadas como uma maneira de desacreditar e difamar seu trabalho", critica ainda a diretora.

Segundo estatísticas citadas pela organização na nota, "70% das mulheres jornalistas sofreram mais de um tipo de assédio, ameaça ou ataque", realidade que frequentemente as afasta da profissão.

Repórter rebateu acusações revelando apuração

Após os ataques recebidos durante o depoimento na CPMI das Fake News, Campos Mello publicou suas trocas de mensagens com o ex-funcionário da agência de disparos de mensagens em massa, nas quais não havia qualquer indício daquilo que afirmou o depoente ao Congresso.

A situação atraiu repúdio de diversas entidades, instituições e políticos na semana passada — incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que cobrou punição ao depoente por falso testemunho.

Em 2018, Campos Mello publicou uma reportagem em que revelava que uma rede de empresas fez disparos em massa de mensagens com mentiras durante a campanha presidencial beneficiando políticos — entre eles, Bolsonaro.

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