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Política

Lula diz que Eduardo Leite devia ser agradecido por ajuda ao RS e governador rebate cobrança

Presidente disse que governador do Rio Grande do Sul 'nunca está contente'; cidades do Estado passam por reconstrução após enchentes

16 ago 2024 - 14h42
(atualizado às 15h03)
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BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou da distância que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), mantém do governo federal no processo de reconstrução do Estado depois da destruição causada pelas enchentes. O petista disse que Leite "nunca está contente", em entrevista à Rádio Gaúcha nesta sexta-feira, 16. Após a declaração, os dois trocaram farpas em evento para anúncio da aceleração das obras do Minha Casa, Minha Vida no Estado.

Leite tenta se equilibrar entre a necessidade de obter recursos da União para reconstruir o Estado e não se aproximar de Lula a ponto de incomodar o eleitorado antipetista, que é numeroso no Rio Grande do Sul.

"Eu, às vezes, fico incomodado porque o governador nunca está contente com as coisas. O governador deveria um dia me agradecer. Dizer 'Lula, obrigado pelo tratamento que você está dando ao Rio Grande do Sul', porque o Rio Grande do Sul nunca foi tratado assim", disse o presidente da República.

Lula também fez críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário político. "É só ver se o Bolsonaro tratou o Estado do Rio Grande do Sul com respeito. É só ver se tem um metro quadrado de obra que o Bolsonaro fez aqui", disse Lula. É importante para o petista enfraquecer Bolsonaro nas próximas semanas e meses para tentar reduzir as votações de bolsonaristas nas eleições municipais.

"Talvez eu não tenha feito por merecer ter mais voto que o Bolsonaro, talvez eu não tenha feito por merecer. Eu tenho, então, que me preparar para fazer por merecer. Agora, eu quero que o povo avalie quanto de dinheiro já veio para cá, quantos projetos já têm aqui", afirmou o presidente sobre ter tido menos votos que seu adversário no Estado na eleição de 2022.

Lula também defendeu a resposta do governo federal às enchentes. Disse que não está havendo demora para a entrega de casas a atingidos pelas cheias. Ele também compartilhou a responsabilidade com prefeitos e com o governador.

"Não tem demora que as pessoas pensam que tem. Não se faz casa em uma semana, não é casa de papel. Se tem cidades que foram alagas e que as casas foram alagadas, por juízo você não pode construir a casa no mesmo lugar. Precisa encontrar um novo terreno. Novo terreno é encontrado pelo prefeito, ou encontrado pelo Estado", declarou o petista.

Ele também disse que cobra o ministro das Cidades, Jader Filho, e o ministro Paulo Pimenta, que coordena as ações federais no Rio Grande do Sul, por mais agilidade.

"O prazo não depende de uma lei, de uma MP. O prazo depende da agilidade da prefeitura, da agilidade do governo do Estado e da agilidade do governo federal. Hoje vai estar aqui o ministro das Cidades. Eu tenho cobrado deles, tenho cobrado do Pimenta, que é muito importante a gente agilizar as casas", disse ele.

Segundo o presidente, todos aqueles que perderam casas serão atendidos pelo Minha Casa, Minha Vida. Lula disse que as moradias serão feitas com empresas brasileiras, e que elas precisam ter agilidade.

Leite rebate Lula em evento

Após a reclamação de Lula, Eduardo Leite rebateu e disse que a população gaúcha não é ingrata, mas que é de sua responsabilidade demandar do governo federal. "Temos essa característica de demandar muito, mas o povo gaúcho não é mal agradecido, não é ingrato. O povo gaúcho agradece todo apoio que recebeu, que recebeu da sociedade brasileira e que recebeu do seu governo", disse Leite, durante anúncio da aceleração das obras do Minha Casa, Minha Vida, no Rio Grande do Sul, também nesta sexta-feira.

Leite elencou que, nos últimos anos, "as dores que o Rio Grande do Sul sofreu", citando o atraso no pagamento de salário a servidores, a pandemia da covid-19, a seca em 2023 e as enchentes no começo deste ano. "São recorrentes os episódios que dificultam a prosperidade no nosso Estado", disse.

"Agradecemos o apoio que são alcançados, mas também sabemos o que é de direito da nossa população, do nosso Estado", rebateu. "Quando a gente demanda, não se trata de algo pessoal, se trata da demanda." Segundo ele, seu cargo é como um "porta-voz" da população.

Ao agradecer o apoio dado pelo governo federal, o governador pontuou também que ainda há muita burocracia que inviabiliza que os recursos cheguem à ponta.

Lula contesta reação de Leite a sua entrevista

Também no anúncio do Minha Casa, Minha Vida, Lula contestou a reação de Leite. O petista disse não disputar com o tucano e que vai conversar com o chefe do Executivo estadual para mostrar o apoio já dado pelo governo federal ao Estado. "Eu duvido que, na história da República brasileira, houve um governo, além de Lula e Dilma (Rousseff), que cuidou do Rio Grande do Sul como nós cuidamos daqui", disse Lula na solenidade.

"Eduardo, toda vez que você olhar para o governo federal, saiba que você tem um amigo. Eu não disputo com você. Eu não disputo popularidade com você. Eu não sou gestor, sou político", comentou. "Nunca tive nenhum problema com nenhum governador. Trato todos com muito respeito, com muita delicadeza."

Depois da entrevista de Lula, a qual Leite disse ter assistido, os dois chegaram juntos ao evento. No início da cerimônia, o governador foi alvo de vaias, o que fez o petista quebrar o protocolo e defendê-lo das críticas, pedindo respeito do público local.

"Eduardo, se o outro presidente da República trazia claque para te vaiar, quem está aqui são trabalhadores", respondeu Lula. "Estou com uma relação com muitos números aqui e não vou utilizar, porque isso vai ser resultado de uma conversa minha com o governador em algum momento", comentou.

Durante sua fala, Lula elencou alguns episódios que o governo federal já deu suporte ao Rio Grande do Sul. Segundo o presidente, a gestão federal está dando suporte à população gaúcha não só por causa das enchentes. "Quando teve seca nesse Estado (em 2023), o governo federal esteve aqui com seis ministros e duvido que, em algum momento antes, algum governo federal tivesse dado atenção para combater a seca nesse Estado."

O chefe do Executivo federal também rebateu a fala de Leite de que alguns benefícios e promessas de suporte da gestão ainda não chegaram à ponta. "Se eu pudesse, já tinha feito todas as casas, mas não é assim que acontece, a gente não inventa casa. Já mandei olhar casa da China, da Suécia, porque quero encontrar um jeito de fazer a maior quantidade possível", comentou.

Lula prometeu que o governo vai cuidar do Estado, mas fez ponderações. A primeira é a de que, além do Rio Grande do Sul, a gestão também precisa cuidar de mais 26 entes da federação. Outra ponderação foi sobre as enchentes.

"É verdade que choveu, mas é verdade que a cheia que deu não foi por causa da chuva, mas porque não tinham cuidado das bombas", acusou. "Nós não estamos procurando culpados, nosso papel é ajudar."

O presidente também respondeu sobre a economia do Estado. "Contra sua tese, de que ia cair o ICMS desse Estado, você teve uma surpresa esse mês com o crescimento do ICMS que ninguém esperava que ia acontecer", comentou.

Diante da divergência entre os governos federal e estadual, Lula pediu para que o ministro da Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, divulgue todas as ações que a gestão fez de suporte ao Estado.

Na esteira das críticas que a gestão federal vem sofrendo, o presidente também comentou as do agronegócio. "Duvido que agro mostre que em algum momento alguém trata eles com a decência que eu e a Dilma tratamos", afirmou. "Nunca pedimos um favor e não vou pedir. Eles que falem o que quiserem, façam o que quiserem. Eu vou ajudar porque a agricultura é importante para o Brasil."

Estadão
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