Escolas de São Paulo vão ouvir os pais de alunos sobre como realizar a retomada
Retorno ainda não encontra consenso nas famílias. Professores também divergem e colégios farão reuniões
As escolas particulares da cidade de São Paulo vão escutar os pais para encontrar a melhor maneira de retomar as aulas presenciais. Mesmo com a estrutura montada há tempos para o retorno dos alunos, os colégios realizarão novas pesquisas para definir como será o início desse retorno em meio à pandemia do novo coronavírus.
A Prefeitura de São Paulo permitiu a volta de atividades presenciais extracurriculares em escolas públicas e particulares a partir do dia 7 de outubro. A decisão foi anunciada em coletiva de imprensa do prefeito Bruno Covas (PSDB) nesta quinta-feira, 17. O retorno não é obrigatório para escolas nem para as famílias e valerá para todo o ensino básico (0 a 17 anos). O ensino superior foi liberado para voltar com aulas. Já nas escolas, o retorno está previsto para 3 de novembro. Colégios e faculdades da capital estão fechados desde março, como forma de frear a transmissão do novo coronavírus.
Os colégios Santa Cruz, Bandeirantes, Dante Alighieri e Porto Seguro deverão conduzir conversas com os pais sobre a definição da retomada. Nesta quinta-feira, os colégios preferiram não se pronunciar oficialmente. Segundo enquete publicada no canal do Twitter no Estadão, com 1.363 votos, 71,3% dos internautas disseram que não enviariam seus filhos para escola neste momento
A coordenadora do Colégio Brasil Canadá, Bruna Elias, disse que sua escola também fará reuniões. "Já temos trabalhado com protocolos há algum tempo e estamos pronto para esse retorno, para receber os alunos. De qualquer forma, temos realizado pesquisas com os pais para saber quem gostaria de retornar. Agora, com essa definição da data, vamos ouvi-los novamente. A ideia é começar por meio de rodízio, com número de alunos reduzidos", informou Bruna Elias, coordenadora pedagógica.
A escola tem cerca de 180 alunos, da educação infantil, com alunos de 1 ano, até o nono ano do ensino fundamental. Bruna informou que os pais de alunos mais novos estão mais ansiosos pelo retorno presencial, enquanto que os responsáveis pelos mais velhos têm mais receio e dizem que os filhos já estão adaptados às aulas online. "Mas isso era antes da definição da prefeitura. Pode ser que as coisas mudem."
O Colégio Mary Ward tem 800 alunos com faixa etária que varia de 3 a 17 anos. Somente 27% dos pais manifestaram interesse em retomar as aulas presenciais. A porta-voz da escola, Adriana Santos Meneguello, disse o momento é de esclarecer eventuais dúvidas e receios sobre esse retorno.
"Tivemos reunião há duas semanas sinalizando a possibilidade desse retorno. Informamos que os equipamentos de proteção já foram adquiridos. Percebemos que muitos pais estavam em dúvida se o retorno seria opcional. Sim, explicamos que a decisão sobre a volta é da família."
A Maple Bear informou que retomará as aulas presenciais na data estipulada e pretende utilizar o conhecimento adquirido nas unidades de outros Estados para oferecer segurança aos alunos. A escola já retomou aulas presenciais em Belém, Fortaleza, Manaus, Porto Velho, São Luís, Sinop, Sorriso e Cuiabá.
"Pela experiência que tivemos nas unidades que já retomaram aulas presenciais, o correto uso de EPIs, uma comunicação recorrente com os pais e treinamentos foram muito importantes para um retorno organizado. Além disso, manter opções digitais também se mostrou fundamental para atender algumas famílias que preferiram não mandar seus filhos neste momento, além de atender a redução de capacidade. A taxa de presença foi crescendo semana a semana, mas entendemos que o modelo híbrido deve prevalecer nos próximos meses", disse a diretora acadêmica da Maple Bear, Cintia Sant'Anna.
Entre a insegurança e um alívio para o confinamento, pais se dividem sobre retomada
A consultora de inovação Regiane Rubino, não pretende autorizar que o filho Nicolas, 15 anos, retorne às atividades do 1.º ano do ensino médio do Colégio Humboldt, da região de Interlagos. "Durante seis meses de pandemia, houve uma adaptação para o ensino a distância e eu acho insano retornar por apenas dois meses de ano letivo, até porque a pandemia não está controlada. Além disso não me sinto segura mesmo com todos os protocolos de segurança a serem adotados pela escola", comenta.
Apesar de entender a importância da socialização para a saúde emocional dos adolescentes, a consultora acredita que o filho está tendo um bom aproveitamento escolar com as aulas remotas, sobretudo a partir do segundo semestre.
Mãe dos gêmeos Lucas e Gabriel, 8 anos, e de Lígia, 14 anos, a dentista Vanessa Giacometti é favorável ao retorno dos filhos às atividades no colégio Colégio Santa Maria, em Jardim Taquaral. De acordo com ela, os filhos não "aguentam mais o confinamento" e, mesmo que as aulas remotas pelo computador ou celular tenham sido levadas com otimismos pelos filhos, ela acredita que já é hora de voltar. "A gente perde muito, por conta do espaço que a escola proporciona. Eles praticamente não saem do apartamento. Se as atividades retornarem, eles também retornarão com certeza, com todos os cuidados". Na instituição, as cantinas não vão funcionar e as atividades ao ar livre serão mais frequentes.
A fotógrafa Fabiola de Oliveira se sente segura que a filha Julia, da 2.ª série do ensino fundamental regresse ao Colégio Mary Ward, no Tatuapé, para atividades extracurriculares. "Com todas as medidas adotadas pelo colégio, não tem motivo para ela não ir. As pessoas vão ao bar, vão às praias, só a escola que não volta. Porém eu penso se vale a pena porque já estamos no fim do ano letivo", conta a mãe.
No começo da pandemia, ela e o marido ficaram preocupados com as aulas remotas pois a filha tem apenas 8 anos, mas eles se surpreenderam positivamente: Julia foi disciplinada e se adaptou bem ao "novo normal" e o esforço dos professores era visível e atravessava a tela.
A bacharel em Letras Ana Rita Sbragia, no entanto, não concorda que a filha Vitoria Sbragia, de 13 anos, frequente as atividades extracurriculares do Colégio Salesiano Santa Terezinha. Para ela, a pior parte da adaptação foi a restrição do convívio com os colegas, mas a filha já não sente tanta vontade de retornar ao ensino presencial. "Eu acho muito triste que eles queriam retornar, como se tudo tivesse voltado ao normal e não acredito que a escola consiga dar conta do afastamento social. Pessoas são pessoas, elas vão querer se abraçar, querer ficar junto. É muito cedo e vai ser ruim para nosso país, com aumento de casos."
Na instituição, o ano letivo encerra em 22 de dezembro e Ana Rita não vislumbra o ganho que os alunos terão em apenas dois meses de atividades presenciais. Ainda que o colégio tenha tomado medidas de prevenção, ela tem receio que a filha, que sofre com problemas de bronquite, pegue a covid-19 ou transmita para um professor mais velho. "Eles terão que manter aula online de certa forma, então por que não manter por inteiro? A escola tem que repensar a volta depois das férias de dezembro", finaliza Ana.