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Índia dá lição de nacionalismo ao mundo, diz Ernesto Araújo

Em discurso para uma plateia de empresários brasileiros e indianos em Nova Déli, na manhã desta segunda-feira (27), sob os olhos atentos do presidente Jair Bolsonaro, o chanceler celebrou o fato de a Índia não seguir "aqueles que dizem que nações deveriam renunciar a suas identidades para serem competitivas".

27 jan 2020 - 06h18
(atualizado às 07h03)
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Ernesto Araújo discursa para plateia de empresários brasileiros e indianos em Nova Déli
Ernesto Araújo discursa para plateia de empresários brasileiros e indianos em Nova Déli
Foto: Alan Santos/PR / BBC News Brasil

Índia e Brasil hoje têm "convergência de ideias e visões de mundo".

Para o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o país liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi "está se modernizando sem abrir mão de suas tradições e valores, e está se construindo a partir de suas raizes e essência e não a partir dos dogmas dos que formam o mundo pós-nacionalista ou antinacionalista".

Em discurso para uma plateia de empresários brasileiros e indianos em Nova Déli, na manhã desta segunda-feira (27), sob os olhos atentos do presidente Jair Bolsonaro, o chanceler celebrou o fato de a Índia não seguir "aqueles que dizem que nações deveriam renunciar a suas identidades para serem competitivas".

"É justo o oposto", disse. "Apenas nações que se reconhecem como nações podem aspirar ser algo no mundo. Essa é a lição da Índia e também a que o Brasil está tentando dar ao mundo."

O comentário endossa a fala do primeiro-ministro indiano, no último sábado, em discurso à imprensa ao lado do presidente brasileiro.

"A parceria estratégica entre Índia e Brasil se baseia na nossa ideologia e nos valores comuns, apesar da distância geográfica", disse Modi.

O nacionalismo e a ideologia do líder indiano, no entanto, são justamente os itens que mais geram controvérsia sobre a Índia no exterior.

'Apenas nações que se reconhecem como nações podem aspirar ser algo no mundo', afirmou Araújo
'Apenas nações que se reconhecem como nações podem aspirar ser algo no mundo', afirmou Araújo
Foto: Alan Santos/PR / BBC News Brasil

Nacionalismo controverso

Os comentários surgem em um momento em que os efeitos do nacionalismo hindu que caracteriza o governo de Modi sobre a liberdade religiosa no país geram preocupação em todo o mundo.

Modi é assunto de capa da revista The Economist, que associa o nacionalismo do primeiro-ministro a uma série de abusos e políticas consideradas discriminatórias contra os quase 200 milhões de muçulmanos no país.

Modi é a principal figura do Partido Bharatiya Janata (BJP), cuja principal bandeira é o nacionalismo "linha dura" pautado pela "hindutva" - uma ideologia que defende que a Índia pertenceria aos hindus e que suas crenças deveriam se sobrepor às de cristãos ou muçulmanos (que também ocupam o território em menor escala há séculos).

Na avaliação de analistas como Iam Bremmer, editor-chefe da revista Time e presidente do Eurasia Group, a prioridade dada por Modi aos hindus tem efeito "trágico" para milhões de muçulmanos e para a democracia indiana, historicamente composta por um caldeirão étnico e religioso.

Em seu discurso, no entanto, Ernesto Araújo expressou a defesa do governo brasileiro ao país.

"Nós, do Brasil, vemos na Índia um país poderoso, orgulhoso de si mesmo, unido em sua diversidade e na profundidade da sua cultura, da alegria de seu povo e da infinita variedade de cores e expressões culturais", disse o chanceler, em inglês.

Na noite de sábado, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, disse a jornalistas que Jair Bolsonaro "elogiou a liberdade religiosa presente aqui na Índia" e "falou que se sentiu confortável em estar em um país que não é cristão, mas foi muito bem acolhido" durante sua reunião bilateral com o primeiro-ministro indiano.

"Os dois são notoriamente nacionalistas, defendem seus países, são avessos a alguns fóruns internacionais e acredito que há muita química nessa relação."

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