'Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que não tô nem aí', diz Tarcísio sobre denúncias contra a PM
Tarcísio também negou o recebimento de denúncias sobre práticas irregulares e defendeu a chamada 'Operação Verão'
Tarcísio de Freitas, o atual governador de São Paulo, desprezou as denúncias feitas sobre a movimentação de corpos na Operação Verão da Polícia Militar, que estariam sendo levados aos hospitais como vivos para evitar a perícia. As denúncias foram feitas por funcionários da Saúde de Santos.
"Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí", ironizou o governador. Entretanto, ele afirmou que o estado irá abrir investigações.
"Tem uma questão de denúncia, vamos investigar. Agora, nós precisamos de fato saber o que realmente aconteceu. Não há nenhum interesse da nossa parte em confrontar ninguém. Nós tínhamos lá na baixada uma série de barricadas que foram removidas. Locais em que o poder público não entrava. Hoje a gente retirou todas as barricadas. A gente está restabelecendo a ordem. Não existe progresso sem ordem."
Durante coletiva de imprensa, Tarcísio também negou o recebimento de denúncias sobre práticas irregulares e defendeu a operação. "Nossa polícia é extremamente profissional (...) A gente está fazendo o que é correto", disse.
Os relatos dos profissionais da Saúde foram mostrados na quarta-feira (6) pela TV Globo e, na quinta-feira (7), o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do Ministério Público, abriu uma investigação sobre o caso.
O que diz o MP
Os promotores vão atrás dos prontuários médicos das vítimas e identificar os socorristas, para saber como os transportes se deram. Além disso, o Gaesp também notificou a Secretaria de Santos, para saber se foi uma ordem instaurada internamente, como foi afirmado.
Segundo os promotores e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, se for confirmada a retirada dos corpos do local, pode ser considerado crime de fraude processual. A pena vai de três meses a dois anos, e pagamento de multa.
Se um corpo é movido do local do crime, prejudica-se o trabalho da perícia, e é difícil para analisar se, por exemplo, houve um homicídio ou, nesse caso, Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) - ocorre quando alguém é baleado em confronto com a polícia.
O g1 divulgou dados de dez boletins de ocorrência que se referem às 17 mortes, das 39, ocorridas durante a Operação Verão.
Denúncias à ONU
Em união com a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Vladimir Herzog, a Defensoria Pública pediu à ONU o fim da operação, além da obrigatoriedade do uso de câmeras policiais por todos os PMs.
No documento enviado à ONU, eles escrevem: "há indícios da não preservação das cenas dos crimes, bem como a repetição da versão policial em todas as ocorrências com morte: que os suspeitos portavam drogas, atiraram e que teriam sido socorridos ainda com vida. Nesse contexto, a ausência de corpos nas cenas de crimes impossibilitaria que a perícia coletasse provas técnicas".
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini