Anos e anos usando aparelhos nos dentes. Finalmente, tira-se a parafernália metálica e, depois de algum tempo, o problema retorna. Isso pode ser resultado de erro de avaliação de ortodontistas que ainda desconhecem a cirurgia ortognática. A intervenção, que custa entre R$ 4 mil e R$ 10 mil, corrige problemas de mastigação, fala e deglutição. E mais: provoca mudanças tão nítidas no rosto que chega a ser comparada a uma cirurgia plástica. "Não adianta apenas movimentar os dentes com aparelhos quando os ossos estão mal posicionados", diz o cirurgião bucomaxilofacial João Roberto Gonçalves.
"O que fazemos são cortes planejados que permitem o reposicionamento dos ossos do maxilar", completa Marcos Pitta, outro especialista. Ele explica que as pessoas para as quais os aparelhos não são suficientes têm deformidades, congênitas ou não, que causam desenvolvimento exagerado ou aquém do desejado nos maxilares. Dentes ou queixo muito para frente ou para trás podem ser sinais dessa malformação.
Mudanças - "Outras características faciais também são afetadas como, por exemplo, o suporte do nariz e o suporte labial", diz Pitta. E é por isso que muitos dos que se submetem à cirurgia ortognática, que mexe apenas na boca, mudam o rosto completamente. É o caso da americana Kar Roberts, de 16 anos, cujas fotos de antes e depois da cirurgia deixam dúvidas de que realmente sejam a mesma pessoa.
"Ela tinha sérios problemas de relacionamento e não queria mais ir à escola" conta Pitta, que a operou em Dallas, há cerca de dois anos, quando fazia um curso de especilização em cirurgia ortognática. Kar sofre de uma doença degenerativa e aparentemente não tinha queixo. "Foi preciso reconstruir a sua mandíbula com próteses e reposicionar os maxilares."
"Existe uma Luciana antes e uma depois da cirurgia", conta a farmacêutica Luciana Queiroz, de 29 anos, que tinha vergonha de sorrir até ser operada. Seu queixo era desproporcional e as gengivas, muito aparentes. Ela conta que, depois da operação, rompeu o noivado porque o rapaz tinha crises de ciúmes por ter ficado mais bonita. Hoje, Luciana está casada com outro e não quer nem se lembrar da vida antes da cirurgia. "Joguei todas as fotos antigas fora."
"O mais importante é que o ortodontista saiba diagnosticar corretamente os casos para enviá-los a um cirurgião especializado", afirma Gonçalves, que se especializou nos Estados Unidos em cirurgia ortognática e hoje opera e leciona na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara. Segundo ele, há profissionais que submetem pacientes a tratamentos de risco para evitar a cirurgia, porque a encaram como um desafio ou a desconhecem.
"Muitos ainda tentam camuflar o problema extraindo dentes", diz Pitta. A estudante Carolina Gallego Lima, de 17 anos, usou aparelho fixo por três anos e, um ano depois de retirá-lo, seu queixo voltou para a posição incorreta. Ela mudou de ortodontista e acabou sendo indicada para fazer a cirurgia ortognática. "Assim que saí do centro cirúrgico já notei a diferença", conta, animada. "Não senti dor nenhuma."
Não há registro no Conselho Regional de Odontologia (CRO) de quantos profissionais realizam a cirurgia ortognática. "É uma área em ascensão", diz o presidente da comissão de odontologia hospitar do CRO, Waldyr Antônio Jorge. Segundo ele, a cirurgia é pouco divulgada aqui e os profissionais interessados acabam se especializando no exterior.
No Brasil, existem apenas cursos para formar cirugiões bucomaxilofaciais. Mas, segundo Jorge, para realizar a cirurgia ortognática é preciso muita atividade hospitalar e cerca de mais dois ou três anos de estudo. Os ortodontistas também precisam ter contato com a cirurgia para identificar o paciente que deve ser indicado a fazê-la.
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