As estatinas, medicamentos que diminuem os níveis de colesterol, podem reduzir o risco de uma pessoa desenvolver o mal de Alzheimer, informaram pesquisadores nesta semana, durante o encontro anual da Academia Americana de Neurologia, realizado em Denver (Colorado). A equipe de Robert C. Green, da Escola de Medicina da Universidade de Boston, estudou 2.581 pacientes, dos quais 614 eram afro-americanos. Os cientistas avaliaram 912 pessoas com suspeita de Alzheimer ou com a doença instalada e as compararam com 1.699 familiares sem o distúrbio que prejudica a memória.
Após considerar vários fatores que poderiam influenciar o risco para a doença, como idade, sexo, herança étnica, nível de escolaridade, história de doença cardíaca, de derrame e de diabete, os pesquisadores verificaram que as pessoas que usaram estatinas foram 79% menos propensas a desenvolver Alzheimer. O tratamento com outras drogas que reduzem o nível de colesterol também foi associado à diminuição na chance de ter a doença, mas os resultados não foram estatisticamente significativos.
Green disse que o estudo não comprova que a redução do risco do Alzheimer foi consequência do uso de estatinas. Os resultados poderiam ser explicados pelo fato de as pessoas mais propensas à enfermidade também terem probabilidade menor de receber prescrição de estatinas por alguma razão ainda desconhecida. Qualquer vínculo claro entre uso de estatinas e Alzheimer pode ser determinado apenas pela realização de estudos clínicos prospectivos - pesquisas em que os voluntários são acompanhados por um determinado período. "Nosso estudo reforça registros anteriores que sugerem existir uma relação desse tipo. Além disso, ele oferece evidências que justificam a realização de um teste clínico prospectivo", acrescentou o especialista.
A pesquisa atual não avaliou os mecanismos que poderiam explicar o efeito benéfico das estatinas sobre a probabilidade de desenvolver Alzheimer. No entanto, há várias possibilidades. Por exemplo, o efeito na redução do colesterol poderia ser o responsável. Outra hipótese é que as drogas também ajudem a evitar mini-derrames que danificam o cérebro. As estatinas ainda poderiam ainda afetar de alguma forma a formação das placas anormais que caracterizam a doença de Alzheimer.
Green enfatizou que o trabalho é "particularmente notável" por ser o maior estudo clínico a mostrar um efeito protetor das estatinas contra o Alzheimer. Essa também é a primeira pesquisa a avaliar os efeitos da etnicidade afro-americana e do gene Apo E. Uma variação desse gene, o Apo E-e4, é conhecida por aumentar o risco de Alzheimer. No estudo, a situação do Apo E de uma pessoa não afetou a associação verificada entre o risco da doença e o uso de estatinas.
Duas pesquisas anteriores sugeriram que as estatinas ajudam a proteger contra o Alzheimer, mas os resultados foram limitados por causa de deficiências no planejamento dos estudos, explicou Green. Nos dois trabalhos, por exemplo, a relação entre o tempo de uso das estatinas e o surgimento dos sintomas de demência não ficou clara. Além disso, os estudos anteriores não incluíram afro-americanos, não levaram em consideração o nível educacional nem avaliaram a ação do tipo de gene Apo E que as pessoas possuíam.