40 anos após o nascimento do primeiro bebê por FIV no Brasil, a técnica continua a evoluir, oferecendo esperanças para casais inférteis.
Quatro décadas após o nascimento do primeiro bebê por Fertilização In Vitro (FIV) no Brasil, a técnica que transformou a medicina reprodutiva continua a evoluir, oferecendo novas esperanças para casais enfrentando a infertilidade. O marco inicial foi em 7 de outubro de 1984, com o nascimento de Anna Paula Caldeira, no Paraná, em um procedimento que seguia os passos da primeira FIV realizada no Reino Unido, em 1978.
Desde então, a FIV tem sido aprimorada com avanços tecnológicos significativos, aumentando as chances de sucesso e acessibilidade ao tratamento.
Conforme a médica Paula Andrea Navarro, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, a evolução das técnicas e medicações ao longo desses anos foi notável.
"Desde o primeiro nascimento, houve uma grande evolução nas medicações que estimulam a ovulação, nas técnicas de obtenção de óvulos e no desenvolvimento embrionário. No início, o procedimento era feito em ciclo natural, sem hormônios, resultando na obtenção de apenas um óvulo. Hoje, com o uso de medicações hormonais, é possível recuperar mais óvulos, o que aumenta significativamente a taxa de nascidos vivos por tratamento", explica a especialista em comunicado, a convite da Organon, empresa global de saúde com foco no desenvolvimento de medicamentos para mulheres.
Outro grande avanço na área foi a introdução da Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) em 1992. Essa técnica trouxe uma solução inovadora para homens com infertilidade severa.
"Antes da ICSI, os homens com problemas graves de fertilidade tinham poucas ou nenhuma opção de tratamento. Agora, é possível injetar diretamente um único espermatozoide no óvulo, permitindo a chance de paternidade e realização do sonho de constituir uma família", comenta Paula.
Criopreservação e seus impactos
A criopreservação de embriões e gametas é outro campo em constante aperfeiçoamento, proporcionando alternativas mais seguras para mulheres que desejam adiar a maternidade.
"As melhorias nas técnicas de congelamento possibilitaram que os óvulos criopreservados alcancem taxas de nascidos vivos semelhantes aos óvulos frescos em grupos específicos de mulheres. No entanto, o sucesso do tratamento está diretamente ligado à quantidade de óvulos congelados e à idade da mulher no momento do procedimento", ressalta a especialista.
Ela destaca que a criopreservação de óvulos se tornou uma ferramenta valiosa para mulheres que precisam postergar a maternidade, seja por motivos pessoais ou profissionais. "Hoje, é possível preservar óvulos com segurança e, assim, manter o sonho da maternidade no futuro".
Falta de acesso no SUS
Apesar dos avanços tecnológicos, o acesso à FIV no Brasil ainda enfrenta obstáculos, especialmente no setor público. Menos de 5% dos tratamentos de FIV são realizados no Sistema Único de Saúde (SUS), o que limita o alcance dessa tecnologia para a população.
"Infelizmente, o SUS não possui uma política integral de reprodução assistida, o que dificulta o acesso de muitas famílias que necessitam desse tratamento", comenta a médica.
A especialista defende a criação de uma Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida no SUS. "Infertilidade afeta uma em cada seis pessoas em idade reprodutiva, e o custo elevado dos tratamentos impossibilita o acesso para a maioria. Instituir essa política no SUS deveria ser uma prioridade", comenta.
Perspectivas futuras
Com o avanço contínuo das tecnologias reprodutivas, o futuro da FIV parece promissor. A automação dos processos, o desenvolvimento de técnicas de cultivo embrionário mais eficientes e os avanços genéticos são áreas que prometem aumentar as taxas de sucesso nos próximos anos.
"O grande desafio é melhorar as taxas de sucesso sem aumentar os riscos, como a gravidez de múltiplos. Também há muita expectativa em relação às tecnologias de edição gênica, que podem melhorar a qualidade dos embriões e reduzir problemas genéticos", finaliza a presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Paula Andrea Navarro.