Estagnação e menos revolução: a Apple na crise da meia-idade

Companhia fundada por Steve Jobs chega aos 40 anos como marca mais valiosa do mundo

31 mar 2016 - 13h52
(atualizado às 15h40)
Foto: Getty Images

Já se foi o tempo em que Steve Jobs anunciava ao público os mais recentes e inovadores produtos da Apple, companhia que completa 40 anos nesta sexta-feira (01/04). Com sua blusa de gola alta e uma ótima habilidade de comunicação, o empresário cativou milhões de pessoas.

O segredo do sucesso da Apple não estava especificamente na inovação. Foi a própria marca, a atenção aos detalhes, o perfeccionismo e um marketing engenhoso que transformaram a empresa de Jobs na mais valiosa do mundo.

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Stephen Guilfoule, que trabalha há mais de 30 anos na Bolsa de Valores de Nova York, diz que não é fã da empresa e que não compraria suas ações, mas admite que a Apple foi excepcionalmente eficiente em desenvolver produtos que as pessoas nunca imaginaram precisar, até perceberem que não podem viver sem eles.

Para Guilfoule, porém, a empresa não conseguiu manter essa eficiência desde a morte de seu fundador, em outubro de 2011.

Steve Jobs não inventou o telefone ou o computador, mas revolucionou toda a indústria da tecnologia. Ao criar o iPod e o iPhone, ele alterou fundamentalmente a forma como ouvimos música e utilizamos a telefonia móvel.

Assim, a Apple se tornou a companhia mais lucrativa de todas. Em 2015, teve receita de 234 bilhões de dólares em vendas e 53 bilhões de dólares de lucro. Segundo o atual CEO da empresa, Tim Cook, há cerca de um bilhão de produtos da Apple sendo usados mundo afora.

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Isso tudo se deve a Steve Jobs, segundo Bob Enderle, analista independente de tecnologia. "Assim como Walt Disney, Steve Jobs era muito bom em manipular as pessoas", diz ele, acrescentando que tal talento é uma raridade. "Tim Cook definitivamente não é desse tipo."

Tempos mais calmos

Desde a morte de Steve Jobs, há mais de quatro anos, a euforia dos fãs em torno da empresa tem diminuído. Frases como "Apple está sem graça", "Apple perdeu o brilho" e até mesmo "Apple atingiu seu ápice" se tornaram comuns.

O último anúncio da empresa ocorreu em meados de março, quando foram apresentadas novas pulseiras para o Apple Watch, além de revelada a redução dos preços do relógio e do novo iPhone. Diferente do que aconteceu nos anos anteriores, não havia filas quilométricas do lado de fora das lojas.

O smartphone da Apple, inclusive, nunca foi tão barato. Ao contrário da rival Samsung, a companhia de Jobs nunca tentou ganhar pelo preço de seus produtos, que sempre foram conscientemente caros.

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Tim Cook definitivamente não é Steve Jobs. Mas, para Bob Enderle, ele nem deveria ser. Imitar o fundador da empresa geralmente não é uma boa ideia. "Na Microsoft, Steve Ballmer tentou conduzir a empresa como Bill Gates, e isso não deu certo", explica o analista.

Cook, por outro lado, quebrou a tradição da empresa ao ouvir o que os clientes queriam. Mesmo não contando com o talento para surpresas como seu antecessor, ele está no caminho certo, afirma Enderle.

Na primavera de 2012, a empresa passou a dividir os lucros com seus acionistas, algo que teria sido impensável para Jobs. Os investidores, é claro, agradeceram a Cook, e a Apple se tornou a empresa mais valiosa do mundo, com valor estimado em 600 bilhões de dólares.

Empresa em transição

Enderle é otimista sobre o futuro da companhia, uma vez que o preço de suas ações vem se recuperando. Segundo o analista, a Apple está se transformando numa empresa que se concentra cada vez mais em soluções e serviços, como na área da saúde, por exemplo. No futuro, o hardware não terá um papel tão relevante.

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Enquanto gigantes da tecnologia como o Google e o Facebook constroem seus modelos de negócio em torno da venda de dados do usuário, a Apple aposta na proteção da privacidade.

Recentemente, a empresa recusou um pedido do Departamento de Justiça dos Estados Unidos de desbloquear o iPhone de um dos autores do massacre de San Bernardino, na Califórnia. Cook alegou que a proteção dos dados do usuário tem prioridade.

A transformação da Apple vai levar tempo. O Apple Pay, por exemplo, que é o serviço de pagamentos da empresa, não parece ter se popularizado. Há sinais, porém, de que ele seja disponibilizado em sites de compras online ainda neste ano.

É provável que a Apple do futuro tenha pouco em comum com a atual – outras grandes empresas, como a IBM, sofreram transformações semelhantes. Uma mudança, porém, se faz necessária caso a Apple queira celebrar outros 40 anos no mercado.

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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