ANPD suspende a coleta de íris em troca de moedas digitais da startup Tools for Humanity; entenda

Companhia fundada por Sam Altman não pode oferecer benefícios financeiros para registro da íris

24 jan 2025 - 19h13

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou nesta sexta-feira, 24, a suspensão da "venda de íris" realizada startup Tools for Humanity, que foi cofundada por Sam Altman, fundador e CEO da OpenAI. Desde novembro, a companhia opera na cidade de São Paulo seu serviço que troca o escaneamento de íris por "moedas digitais", como bitcoin. Segundo a ANPD, a empresa deve suspender qualquer tipo de benefício financeiro no Brasil para coleta da íris a partir deste sábado, 25.

Por meio de nota, a empresa afirma que "está em conformidade com todas as leis e regulamentos do Brasil". Diz também: "Relatos imprecisos recentes e atividades nas mídias sociais resultaram em informações falsas para a ANPD. Estamos em contato com a ANPD e confiantes de que podemos trabalhar com o órgão para garantir a capacidade contínua de todos os brasileiros de participarem totalmente da rede World. Estamos comprometidos em continuar a oferecer este importante serviço a todos os brasileiros".

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Usuários recebem criptoativos em troca do cadastramento de suas íris e rosto na plataforma da World, uma nova rede digital.
Usuários recebem criptoativos em troca do cadastramento de suas íris e rosto na plataforma da World, uma nova rede digital.
Foto: Alex Silva/Estadão / Estadão

Para a ANPD, o benefício financeiro oferecido pela empresa poderia incentivar a obtenção de dados pessoais. "Nos termos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o consentimento para o tratamento de dados pessoais sensíveis, como é o caso de dados biométricos, precisa ser livre, informado, inequívoco e fornecido de maneira específica e destacada, para finalidades específicas", diz a nota. "Em análise preventiva, a Coordenação-Geral de Fiscalização entendeu que a concessão de contrapartida pecuniária pela empresa, por meio da oferta de criptomoedas, pode prejudicar a obtenção do consentimento do titular de dados pessoais", afirma o documento.

Para realizar o cadastro pessoal no sistema da Tools for Humanity, chamado de - World ID, os usuários precisam realizar reconhecimento facial e escaneamento de íris, que são dados biométricos sensíveis. Em troca, a startup oferece algumas dezenas de "moedas digitais" (chamadas worldcoins) que podem ser vendidas dentro do próprio aplicativo por "dinheiro de verdade". Na prática, a pessoa faz uma imagem de alta resolução da íris e recebe tokens de criptoativos, como o bitcoin, que podem ser trocados por reais - dependendo da cotação dessa moeda é possível receber entre R$ 300 e R$ 700.

O serviço vem ganhado muitos adeptos em São Paulo, primeira cidade no Brasil a participar do projeto. Já são mais de 400 mil pessoas registradas e 48 pontos de captação das imagens dos olhos. Mais de um milhão de pessoas já baixaram o aplicativo no celular - e milhões de pessoas assistiram aos vídeos no TikTok de pessoas que já participaram do projeto. Como mostrou o Estadão, muitos dos participantes apresentam algum tipo de vulnerabilidade social e topam o registro da íris apenas pelo dinheiro "rápido" e "fácil".

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Desde 2024, a ANPD, por meio da Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF), vêm fiscalizando o uso de dados biométricos para a nova rede social. Segundo a Tools for Humanity, o World ID permitiria a comprovação de que o titular é um ser humano único vivo e promoveria maior segurança digital em contexto de ampliação das ferramentas de inteligência artificial.

A ANPD também considerou que o tratamento dado aos dados pessoais pela companhia é "grave". "A CGF considerou, ainda, que o tratamento de dados pessoais realizado pela empresa se revelou particularmente grave, considerando o uso de dados pessoais sensíveis e a impossibilidade de excluir os dados biométricos coletados, além da irreversibilidade da revogação do consentimento." A agência também exige que a startup indique em seu site a identificação do encarregado pelo tratamento de dados pessoais.

Leia a nota na íntegra

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) decidiu aplicar medida preventiva à empresa Tools for Humanity - TFH para suspender a oferta de criptomoeda ou de qualquer outra compensação financeira pela coleta de íris de titulares de dados no Brasil. Igualmente, determinou à TFH que indique em seu site a identificação do encarregado pelo tratamento de dados pessoais.

Em novembro de 2024, a ANPD, por meio da Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF), instaurou processo de fiscalização para analisar o tratamento de dados biométricos para fins de criação da chamada World ID. Segundo a empresa, a World ID permitiria a comprovação de que o titular é um ser humano único vivo e promoveria maior segurança digital em contexto de ampliação das ferramentas de inteligência artificial.

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Em análise preventiva, a Coordenação-Geral de Fiscalização entendeu que a concessão de contrapartida pecuniária pela empresa, por meio da oferta de criptomoedas, pode prejudicar a obtenção do consentimento do titular de dados pessoais. Nos termos da LGPD, o consentimento para o tratamento de dados pessoais sensíveis, como é o caso de dados biométricos, precisa ser livre, informado, inequívoco e fornecido de maneira específica e destacada, para finalidades específicas.

Em sua análise, a CGF entendeu que a contraprestação pecuniária oferecida pela empresa pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos, por influenciar na decisão quanto à disposição de seus dados biométricos, especialmente em casos nos quais potencial vulnerabilidade e hipossuficiência tornem ainda maior o peso do pagamento oferecido.

A CGF considerou, ainda, que o tratamento de dados pessoais realizado pela empresa se revelou particularmente grave, considerando o uso de dados pessoais sensíveis e a impossibilidade de excluir os dados biométricos coletados, além da irreversibilidade da revogação do consentimento. Diante disso, a fiscalização aplicou medida preventiva à TFH, que entra em vigor neste sábado, 25 de janeiro.

*Mariana Cury é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani

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