O furacão Ian, que atingiu a Flórida em setembro, levou uma água quente e salgada que inundou casas e empresas, esgotos e fossas. Toda essa mistura, resultante da chuva e vento do furacão, criou o cenário ideal para o desenvolvimento de um ser microscópico: uma bactéria "comedora de carne" chamada Vibrio vulnificus.
Degradação de células da pele (por isso o nome “comedora de carne”), extração de ferro do sangue, falência múltipla de órgãos. Essas são algumas das ações dessa bactéria nos corpos humanos. De 28 pessoas infectadas com ela na Flórida, sete morreram. A taxa geral de letalidade por infecção de vitrio é de 35%, mas em pessoas com condições preexistentes ou sistemas imunológicos comprometidos, é mais perto de 50%.
De acordo com o especialista em ambiente do Departamento de Saúde da Flórida, James Williams, "quando você está em um ambiente tropical com água parada que está muito contaminada com detritos e o que está assando ao sol — esse é o coquetel perfeito para essa bactéria se desenvolver".
À medida em que as inundações recuavam, os casos passaram a diminuir, e nenhum mais foi registrado desde o dia 13 de outubro. Mas a microbiologista da Old Dominion University, na Virgínia, Dayle Daines, assim como outros pesquisadores, acredita que a V. vulnificus, assim como suas irmãs patogênicas, podem estar em ascensão nas próximas décadas, considerando a mudança climática e a remodelação da paisagem aquática.
As bactérias vibrio proliferam em ambientes aquáticos quentes e são halófilas, isto é, gostam de água ligeiramente salgada. Algo preocupante, já que furacões estão aumentando em intensidade, inundações recentes quebraram recordes e águas oceânicas mais quentes se movem mais para o norte.
Assim que entra no corpo, a bactéria se replica rapidamente, completando um ciclo reprodutivo completo em cerca de 20 minutos. "Quando finalmente você olha para baixo, e sua ferida é um pouco vermelha e inchada, você pode pensar que ele só ficou um pouco infectado e está tudo bem. Mas neste momento você deve estar indo para o hospital", diz Daines.
Podem se tornar mais resistentes
Além de as inundações aumentarem o risco de infecções e exposições a doenças, elas podem tornar as bactérias transmitidas pela água mais perigosas. No furacão Ian, por exemplo, o vazamento de esgoto para áreas inundadas ao redor pode fazer com que as espécies de vibrio se misturem mais facilmente a outras e troquem genes com elas, incluindo os mais resistentes a antibióticos.
Pesquisas anteriores já mostraram que o derretimento do pergelissolo (camada de gelo profunda) no Ártico poderia liberar bactérias resistentes a antibióticos e vírus desconhecidos em nosso ambiente. Da mesma forma, inundações mais frequentes e clima severo provavelmente levarão a um aumento de doenças e infecções.
Por enquanto, para evitar o contato com os vibrios, Daines recomenda ouvir as autoridades de saúde pública. Um dos cuidados possíveis é usar sapatos de surfe na água do mar para evitar arranhões onde as bactérias podem entrar. Se houver chance de ter sido exposto ou tem sintomas como febre ou pele vermelha e inchada, a pessoa possivelmente infectada deve consultar o médico.