Batatas e tomates contêm substâncias contra câncer? Ao que parece, sim

Segundo os pesquisadores, a dosagem correta dessas substâncias pode transformá-las em medicamentos

7 dez 2022 - 12h54
Compostos da batata, quando aplicados na dosagem certa, podem ser eficazes contra o câncer
Compostos da batata, quando aplicados na dosagem certa, podem ser eficazes contra o câncer
Foto: Pixabay

A evolução do tratamento do câncer pode dar um salto em breve: uma equipe de pesquisadores poloneses descobriu que compostos bioativos chamados glicoalcalóides, encontrados em vegetais como batatas e tomates, demonstram potencial para ser usado em terapias contra tumores. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (7), na Frontiers in Pharmacology.

No Brasil, o país registra 625 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2020/2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Os tratamentos estão avançando, mas podem danificar células saudáveis ou causar efeitos colaterais graves para os pacientes.

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Para a descoberta, os cientistas se concentraram em cinco glicoalcalóides: solanina, chaconina, solasonina, solamargina e tomatina, encontrados em extratos brutos da família de plantas Solanaceae, também conhecidas como solanáceas. 

Esta família contém muitas plantas alimentares populares e muitas tóxicas, frequentemente por causa dos alcaloides. Estes compostos derivados de aminas funcionam como defesa contra animais herbívoros. O que a ciência descobriu agora é que a dose correta dessa substância pode transformar um veneno em remédio.

Compostos bioativos chamados glicoalcalóides, encontrados em vegetais como batatas e tomates, demonstraram potencial para tratar o câncer.
Foto: Guia da Cozinha

Inibidores de células cancerígenas

A descoberta foi feita com a reavaliação de estudos, e mostrou que os glicoalcalóides, inibem o crescimento e podem promover a morte de células cancerígenas.

Segundo os pesquisadores, estas são as principais áreas-alvo para controlar o câncer e melhorar os prognósticos dos pacientes. Estudos in silico — um primeiro passo importante — sugerem que os glicoalcalóides não são tóxicos e não correm o risco de danificar o DNA ou causar futuros tumores, embora possam haver alguns efeitos no sistema reprodutivo.

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"Mesmo que não possamos substituir os medicamentos anticancerígenos usados hoje em dia, talvez a terapia combinada aumente a eficácia desse tratamento", sugeriu Magdalena Winkiel da Universidade Adam Mickiewicz (Polônia), líder do estudo.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, o Brasil tem mais de 625 mil casos de câncer por ano
Foto: Canaltech

Dos vegetais ao tratamento 

Um passo necessário é usar estudos in vitro (fora de um organismo vivo) e em animais modelo para determinar quais glicoalcalóides são seguros e promissores o suficiente para serem testados em humanos.

Segundo a equipe de Winkiel, os derivados de batatas, como solanina e chaconina, se mostraram promissores – embora os níveis presentes nesses vegetais dependem do cultivo e das condições de luz e temperatura aos quais as batatas são expostas.

A solanina impede que alguns produtos químicos potencialmente cancerígenos se transformem em cancerígenos no corpo e inibe a metástase (tumores em outros órgãos).

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Estudos em um tipo específico de células de leucemia também mostraram que, em doses terapêuticas, a solanina as mata. Chaconine tem propriedades anti-inflamatórias, com potencial para tratar a sepse.

Outra propriedade, a solamargina – encontrada principalmente na berinjela – impede a reprodução das células cancerígenas do fígado. A solamargina é um dos vários glicoalcalóides que podem ser cruciais como tratamento complementar porque tem como alvo as células-tronco do câncer, que desempenham um papel significativo na resistência aos medicamentos contra o tumor.

Apesar das decobertas, mais pesquisas serão necessárias para determinar como esse potencial in vitro pode ser melhor transformado em medicina prática, segundo Winkiel e sua equipe. Há razões para acreditar que o processamento de alta temperatura melhora as propriedades dos glicoalcalóides.

Fonte: Redação Byte
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