Bolsonaristas adotam "táticas de guerra" no Telegram para fugir de bloqueio do STF

Canais bolsonaristas monitorados pelo STF divulgam informações pessoais de supostos infiltrados e mudam seus nomes diariamente para evitar bloqueios.

12 jan 2023 - 14h55
(atualizado em 13/1/2023 às 10h45)
Apoiadores de Bolsonaro invadem sede do STF
Apoiadores de Bolsonaro invadem sede do STF
Foto: Poder360

Após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que pediu a suspensão de mais de 50 canais e grupos bolsonaristas no Telegram, o Núcleo identificou que seus integrantes adotaram o que chamam "táticas de guerra", como a mudança diária do nome dos canais. Muitos dos canais listados ainda não foram suspensos.

Monitoramento do Núcleo nesta quinta-feira (12.jan) também revela que os bolsonaristas se tornaram mais preocupados com vigilância de autoridades e passaram a divulgar informações pessoais de supostos infiltrados nos grupos do Telegram.

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Foto: Núcleo Jornalismo

ESTRATÉGIAS. Oscanais listados na decisão do STF que ainda não foram suspensos estão com, em média, menos de 3 mil inscritos. No entanto, o Núcleo também identificou que o grupo "O despertar reserva" ainda está em atividade com mais de 15 mil membros.

Para escapar da moderação, os canais adotaram o que chamam de "táticas de guerra" e mudam constantemente os nomes dos grupos, além de apagar históricos e ativar mensagens temporárias.

Em um dos canais listados pelo STF, uma usuária confusa pergunta qual o nome do grupo originalmente, e diz que muitos mudaram de nome na madrugada de quinta-feira (12.jan.23). Um dos membros responde que "teve uma confusão que obrigou o grupo a fazer alguns ajustes", mas não menciona a decisão da Justiça.

Membros expõem estratégia de mudar de nome várias vezes ao dia, e até mesmo usuários golpistas ficam confusos/Reprodução do monitoramento do Núcleo

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"QUEM RIU É INFILTRADO". A preocupação com supostos infiltrados agora é recorrente nos canais, fazendo com que usuários migrem para redes mais criptografadas e até vazem números de telefone de quem desconfiam.

Em um dos grupos bloqueados após decisão do STF, com 3895 mil inscritos, administradores apagaram todo o histórico de mensagens e fizeram uma pegadinha ao enviar uma mensagem simulando que o canal tinha sido bloqueado pelo Telegram. Após sete horas, coletaram reações dos membros e baniram todos os que chamaram de infiltrados.

Reprodução de grupo do Telegram
Foto: Núcleo Jornalismo

Os usuários também migraram para redes consideradas mais seguras, como o Signal. O aplicativo, no entanto, não permite que o usuário esconda seu número de telefone, como no Telegram, e pode facilitar que administradores rastreiem e vazem números de telefone.

O Núcleo também identificou usuários convocando migração para aplicativos como o Element, que usa o protocolo Matrix, uma rede de comunicação de código aberto e criptografado com pouca tração no Brasil.

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Reprodução de grupo do Telegram
Foto: Núcleo Jornalismo

Logo após a insurreição de extremistas em 8.jan.23 em Brasília, usuários em canais e grupos golpistas passaram a ficar mais alertas com o que chamam de infiltrados. Em alguns canais, discutem a importância de contratarem profissionais de tecnologia de informação e hackers para rastrear pessoas de esquerda, políticos e jornalistas.

Reprodução de grupo do Telegram
Foto: Núcleo Jornalismo

DOXXING. Na manhã de quinta (12.jan), vários canais golpistas compartilharam uma lista com cerca de 50 números e nomes dos supostos infiltrados. A prática pode ser considerada doxxing — crime de vazar informações pessoais de alguém na internet , sobretudo se aqueles com dados expostos venham a sofrer assédio.

Monitoramento do Núcleo
Foto: Núcleo Jornalismo

INFLUENCER INVESTIGADO. O canal do Telegram de Allan dos Santos, influencer bolsonarista investigado pelo STF em dois inquéritos, ainda está ativo e conta com 22 mil inscritos. Desde 8.jan, Santos publica mensagens de teor extremistas, além de publicamente apoiar a insurreição contra o Estado democrático.

Após os ataques em Brasília, Santos chegou a compartilhar uma publicação de sua conta no Locals, uma rede alternativa de direita, onde fala que Adolf Hilter "usou politicamente o incêndio do congresso alemão" — em uma tentativa de comparar o presidente Lula ao líder nazista.

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Reprodução de grupo do Telegram
Foto: Núcleo Jornalismo
Reportagem Sofia Schurig
Edição Julianna Granjeia
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