"Você também vai para aquele acampamento de tecnologia?", foi o que me perguntou o taxista, quando entrei no carro a caminho da oitava edição da Campus Party, na manhã desta quinta-feira (05). O evento - que acontece no São Paulo Expo (Imigrantes) - pode ser definido assim mesmo: um extenso e divertido acampamento de "campuseiros".
Para aproveitar o máximo da festa e não perder nenhuma palestra importante, milhares de pessoas passam a semana inteira dormindo na área de camping do evento. As barracas são alugadas no local, que oferece banheiros para que todos tenham onde tomar banho.
Para comer, a maioria traz lanches de casa. Há ainda uma pequena praça de alimentação, que oferece lanches como pão de queijo e "refeições" como pizzas e cachorros-quentes.
"Dá pra se virar", diz Túlio Monteiro da Silva, 22 anos, estudante de Tecnologia da Informação. Tímido, ele conta que é a primeira vez que vai a uma Campus Party, está sozinho e tem aproveitado o evento. "Eu durmo aqui na barraca desde o primeiro dia e tem sido bem tranquilo".
Não é bem isso que pensa o desenvolvedor mobile Leonardo Ross, 24 anos. "A barraca é um pouco apertada. Eu fico com os pés para fora na hora de dormir", explica Ross, que veio para o evento com sua namorada. Ross vestia uma touca do personagem Rammus, do jogo League of Legends.
Pessoalmente, me surpreendi com o mar de barracas que encontrei quando entrei na área do camping. Ao todo, são 8 mil pessoas dormindo em um grande salão. Lá, todos passam as mesmas dificuldades e têm as mesmas "mordomias". Bom, quase todos.
Próximo à área do acampamento, existem os quartos vip. Eles são ambientes com paredes de vidro, patrocinados, que possuem - acreditem - camas e conforto. Uma noite em um desses quartos é prêmio para os campuseiros vencerem as gincanas propostas pelas empresas responsáveis pelo espaço.
O quarto organizado por um serviço de hospedagem possui uma decoração jovem e colorida. Nele, há também um Xbox-One e um frigobar bem abastecido. Para dormir no quarto, o campuseiro precisa tirar uma foto mostrando o que é "dormir mal" na Campus Party.
Na primeira noite, uma grávida ganhou o concurso, que é mediado pelo humorista Murilo Gun. Na segunda, o campuseiro que mandou a melhor foto retratou uma goteira em sua barraca. Ambos ganharam uma noite de "luxo" no quarto de vidro.
Para dormir no quarto vip do Banco do Brasil, a gincana é um pouco diferente. A empresa contrata atores que andam pelo evento como personagens e os campuseiros precisam encontrá-los e dizer quem eles são.
"Eu nunca gostei do Big Brother Brasil, então fiquei meio assim de dormir aqui, porque é praticamente igual", disse José Ricardo Costa, 20 anos, estudante de Engenharia Eletrônica e de Computação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele e seu amigo e colega de curso, Rodrigo Ferreira, 20 anos, ganharam uma noite no quarto do Banco do Brasil após desvendar a charada desta quarta-feira (4).
"O personagem era jornalista", conta José Ricardo, que estava jogando em um computador de última geração - disponibilizado pelo Banco do Brasil - quando entrei no quarto. Os amigos Ian Miranda, 20 anos, e Ana Carolina Menezes, 20 anos, também estavam no quarto de vidro. "Podem entrar até cinco pessoas", conta o grupo.
A turma conta que respondeu a mais uma charada, proposta pelo "jornalista", e ganhou uma câmera. A charada era relacionada com matemática. Afinal, o evento é para "nerds" - mesmo que, em geral, jornalistas não se dêem muito bem com números.
Os amigos estudantes de engenharia da UFRJ contaram que, fora da casa de vidro, o "perrengue" não estava tão grande também. "Estava divertido lá fora. Viemos com mais umas 15 pessoas e a universidade bancou tudo, inclusive a comida", diz Ana Carolina.
Sobre o computador em que estavam jogando, o grupo se mostra empolgado. "Só não achamos nenhum jogo para aproveitar tudo que esse computador oferece", conta José Ricardo.
O evento é cheio de nerds. Nerds esses que têm todos os estilos: do engravatado ao gamer, do que usa roupas clássicas no maior estilo Steve Jobs àquele que usa chapéus de bruxo ou toucas de personagens.
Mas a verdade é que, entre tantas pessoas diferentes umas das outras e com tão poucas opções de luxo, uma coisa une a todos os 8 mil campuseiros: a paixão e o interesse por tecnologia. Além disso, uma gincana aqui e ali para dormir fora do chão não faz mal a ninguém.