Marte é um planeta do Sistema Solar que sempre despertou a curiosidade de pesquisadores de todo o mundo, sendo palco de explorações espaciais desde 1960. Hoje, novas missões foram descobrir mais características sobre o astro, principalmente formas de vida anteriores e a capacidade de ser minimamente habitável. Mas, até agora, o que foi encontrado por lá?
Antes que você pergunte: não, as agências não acharam vida. Mas já vimos pistas de ter havido água, cabono — elemento importante para os seres vivos — e até micróbios no passado. E as descobertas não devem parar, já que mais missões ocorrerão nos próximos anos, e há chances de haver tripulação humana. Veja abaixo o que já sabemos.
Já existiu água líquida no passado
Uma das maiores buscas que se faz hoje em Marte é em relação à possível presença de água no planeta. O rover Curiosity, da Nasa, encontrou pedras lisas e arredondadas, que indicam ter ficado embaixo de um rio rolando por alguns quilômetros.
Além disso, a suíte de instrumentos Sample Analysis at Mars (SAM) também encontrou indícios de que Marte perdeu grande parte da sua atmosfera original e inventário de água, que teria ido ao espaço através do topo da atmosfera. Marte também pode ter tido um lago subterrâneo, descoberta do orbitador Mars Express, da Agência Espacial Europeia.
O rover chinês Zhurong descobriu também, há pouco, que o planeta tinha água correndo por sua superfície em épocas mais recentes do que se imaginava, há apenas 700 milhões de anos. A ideia dos cientistas até então era de que o planeta possuía água em sua superfície há pelo menos 3 bilhões de anos.
Amostras de carbono, elemento ligado a vida
Amostras de rocha em pó colhidas pelo Curiosity, da Nasa, demonstraram ser riquíssimas em carbono, algo que, na Terra, é uma característica que indica atividade biológica. Mas os pesquisadores alertam que existem outras possibilidades para a presença de carbono em Marte.
Há pelo menos três explicações possíveis, segundo a Revista Proceedings of the National Academy of Sciences: poeira cósmica, degradação ultravioleta do dióxido de carbono ou degradação ultravioleta do metano produzido biologicamente.
A primeira hipótese parte da premissa de que todo o Sistema Solar teria passado por uma nuvem de poeira cósmica. Já a segunda envolve a conversão do dióxido de carbono em compostos orgânicos. E a terceira teria razões biológicas – na Terra, essa medição de carbono indicaria que micróbios estavam consumindo metano produzido biologicamente.
Possíveis micróbios
Além disso, foi descoberto que Marte, no passado, possuía a química certa para sustentar micróbios vivos. Substâncias como nitrogênio, oxigênio, fósforo e carbono, que são fundamentais para a vida, foram evidenciados nas mostras coletadas pelo instrumento Sample Analysis at Mars (SAM). Além disso, a amostra revela materiais de argila e pouco sal, o que sugere água fresca.
Uma região do Ártico chamada Lost Hammer Spring (Primavera do Martelo Perdido) possui micróbios que podem ajudar na busca de seres semelhantes em Marte, porque esta região teria um ambiente análogo ao do planeta. A água líquida salgada de lá chega a cerca de 600 metros abaixo da camada de pergelissolo, popularmente conhecido como “gelo eterno”, e a região tem quase nenhum oxigênio. Em Marte, além do pouco oxigênio, há uma distribuição de sal que foi deixada por corpos de água há muitos anos.
Metano
O espectrômetro laser ajustável (TLS) do Curiosity detectou um nível de metano atmosférico. O que, para os cientistas, é muito interessante, já que o metano pode ser produzido por organismos vivos (atividade biológica) ou reações químicas entre a rocha e a água (atividade geológica, por exemplo. O desafio então seria saber a origem desse metano no planeta vermelho.
Na Terra, sabemos que o gás metano ajuda diversos animais ruminantes (como bois e carneiros) a fazerem a digestão de plantas, por isso é fácil identificá-lo em locais com a presença de gados ou animais semelhantes.
Em Marte, no entanto, se alguns instrumentos, como o Curiosity, conseguiram “enxergar” o metano. Outros, como a sonda europeia ExoMars Trace Gas Orbiter, não foram capazes. Uma das teorias para isso seria a de que só seria possível para o espectrômetro identificar o metano durante a noite, quando a atmosfera do planeta está calma. Para o ExoMars, a detecção do gás só funcionaria com luz solar, momento em que os níveis de metano podem estar diluídos a níveis indetectáveis.
Radiação
No percurso de exploração de Marte, uma das grandes preocupações é no que diz respeito à radiação encontrada no planeta, que atinge níveis altíssimos. Para se ter uma ideia, se um ser humano na Terra é exposto a cerca de 0,33 milisieverts de radiação cósmica por ano, em Marte, essa exposição anual pode ser superior a 250 milisieverts.
Essa radiação alta provavelmente está ligada a explosões solares e supernovas, e é capaz de penetrar nas rochas e destruir aminoácidos e quaisquer moléculas orgânicas. Os cientistas acreditam que isso também está relacionado à pouca espessura da atmosfera em Marte (mais frágil que a da Terra) e também à falta de campo magnético.
Acredita-se, porém, que um dia Marte já teve um campo magnético maior e uma atmosfera semelhante à da Terra, o que indica que o planeta possa, sim, ter sido habitável no passado. Além disso, tanto o rover Curiosity quanto o Perseverance encontraram materiais orgânicos, que contribuem com essa teoria.