Depois do ataque a uma creche em Blumenau (SC) na manhã desta quarta-feira (5.abr), fotos do autor do atentado e prints de seu suposto perfil no Facebook começaram a circular rapidamente nas redes e em veículos de imprensa, levantando mais uma vez o debate sobre a ética na cobertura jornalística de casos do tipo.
Um alerta: o crime chocante do dia tem um alvo muito específico pra chocar e tomar atenção da mídia. Divulgar qualquer possível material que ele tenha escrito, inclusive nas redes, assim como sua imagem, é trabalhar a favor do criminoso.
— joiarme 💎 (@jairmearrependi) April 5, 2023
Jacinda Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, foi citada como exemplo positivo — quando houve um atentado islamofóbico no país em 2019, tanto ela quanto parte da imprensa local se negaram a dar notoriedade ao assassino.
O monstro que matou quatro crianças em uma creche em Blumenau se entregou sem resistência, com o claro objetivo de "aproveitar" a fama. Divulgar fotos, informações e pensamentos do assassino é fazer o que ele quer. É necessária uma abordagem Jacinda https://t.co/qCJvwVG0tK
— Filipe Barini (@molote_molote) April 5, 2023
Em 2019 aconteceu um ataque em mesquitas na Nova Zelândia. Um supremacista branco matou 50 pessoas. A 1a ministra se recusou a falar o nome dele, a imprensa do país não publicou sua foto nem nome. Publicaram perfil, deixaram claro que era um extremista, mas ele ficou sem nome. https://t.co/gh0sem223G — Gabi Bianco (@gabibianco) April 5, 2023
A jornalista Bia Abramo propôs que os maiores veículos de imprensa criem regras para a cobertura desse tipo de crime, cada vez mais comum no Brasil.
É URGENTE que a imprensona faça algum tipo de consórcio, como na covid, para estabelecer regras de conduta para cobertura desses casos de violência nas escolas. PARA ONTEM.
Ah, tem código de ética, mas o que é a ética diante do click bait?
Mano do céeeeu.
— Bia Abramo (@biawabramo) April 5, 2023
A associação Jeduca, criada por jornalistas que cobrem educação, lançou recentemente um manual de boas práticas nesses moldes.
A @JeducaEduca preparou um documento com pontos de atenção e recomendações na cobertura de ataques a escolas: https://t.co/cIYO5YuCGe
— Carolina Moreno (@anarina) April 5, 2023
As recomendações, em síntese, são as seguintes:
- Evitar conclusões precipitadas e buscar fontes que possam analisar cada caso.
- Não publicar imagens e vídeos do agressor para não estimular a glorificação da violência.
- Acompanhar medidas tomadas pelo poder público e ouvir secretarias de educação sobre ações tomadas para lidar com conflitos no ambiente escolar.
- Preservar a identidade dos estudantes ouvidos.
- Confirmar os dados fornecidos pelas vítimas, já que memórias podem ser imprecisas.
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