CEO da Cloudfare diz que volta do X no Brasil foi uma 'coincidência'

Executivo disse que uma troca de fornecedores de serviços de TI resultou no acesso ilegal ao site de Elon Musk

20 set 2024 - 18h56
(atualizado às 20h22)

Matthew Prince, CEO da Cloudflare, falou pela primeira vez após o retorno momentâneo do X, antigo Twitter, no Brasil, que na quarta, 18, ficou acessível para alguns usuários do País. Ao site TechCrunch, o executivo classificou a volta da rede social como uma "coincidência".

"Eu não acho que nada nessa mudança tenha sido intencional para driblar o bloqueio no Brasil.Foi literalmente a troca de uma empresa de TI por outra", disse ele ao site.

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O executivo disse que sua companhia ganhou um contrato junto ao X para oferecer serviços de computação em nuvem em diferentes regiões do globo, incluindo o Brasil. O X usava os serviços da Fastly, um concorrente da Cloudfare, e o processo de troca teria ocorrido quando o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o bloqueio. A troca de empresas gerou a troca de IP (o "endereço" de cada máquina na internet) que acabou permitindo o acesso à rede social de Elon Musk.

Em comunicado na quarta, a Abrint afirmou que o acesso foi possível graças à adoção de endereços de IP dinâmicos fornecidos pela plataforma Cloudflare, serviço de proxy reverso em nuvem que atua como intermediário entre os usuários e os servidores do X. O IP é o número único de cada máquina ou servidor na internet, como se fossem os números de casas em uma rua. O proxy permite que esse número seja "escondido", o que dificulta o bloqueio.

"Nunca falamos com o X sobre ajudá-los a driblar o bloqueio brasileiro", disse Prince à publicação. "Isso aconteceu em parte do tráfego deles na transição da Fastly para a gente, especialmente na América Latina", completou. Ele afirma ainda que tudo foi uma "grande coincidência", que aconteceu justamente duarante a disputa política de Musk no País.

Volta ilegal

Fundada em 2009, a Cloudflare fornece serviços de infraestrutura e segurança para diversos sites e aplicativos, como o Discord, Udemy e Canva - atualmente, ela vale US$ 26,6 bilhões na Bolsa de Nova York. A Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) afirmou na quarta que o X burlou a ordem judicial por meio da adoção de endereços de IP dinâmicos fornecidos pela Cloudflare.

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Jéferson Campos Nobre, professor do Instituto de Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que uma grande quantidade de serviços disponibilizados na internet utilizam os serviços da Cloudfare, muitas delas adotam o serviço escolhido pelo X, chamado de proxy reverso. Essa é uma técnica usada para que servidores de serviço online suportem tráfego alto e sejam capazes de carregar mais rapidamente.

Para fazer isso, o proxy reverso atua como um intermediário entre o usuário e o provedor do serviço. Porém, ao realizar essa comunicação, o proxy reverso esconde o IP (o "endereço" da máquina na internet) de quem contrata o serviço, que acaba adotando números fornecidos pela Cloudflare. O bloqueio do X no Brasil foi feito a partir do número de IP verdadeiro da empresa de Elon Musk.

Relembre a suspensão do X no Brasil

No dia 31 de agosto, após decisão do ministro Alexandre de Moraes, a rede social foi suspensa por tempo indeterminado no País.

A suspensão veio após uma série de conflitos entre Moraes e Elon Musk, o dono da plataforma. No dia 17 de agosto, o bilionário fechou os escritórios no Brasil por não concordar com diversas exigências de Moraes, como ferramentas para o controle de fake news dentro do X, por exemplo.

Após o fechamento, o ministro exigiu que Musk indicasse um representante legal brasileiro para o X, caso contrário, a rede social seria suspensa no País.

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Como o pedido de acordo não foi respondido por parte de Musk, no dia 30 de agosto, o X parou de funcionar no Brasil. Além disso, o ministro bloqueou as contas da empresa de internet Starlink - também de Musk - como garantia de pagamento das multas à Justiça sofridas pelo X.

Depois de um bloqueio de cerca de R$18 milhões, as contas foram liberadas novamente. Apesar disso, o X seguiu suspenso, pois a liberação da plataforma exige outras medidas judiciais como um representante legal no País e ferramentas que denunciem e excluam perfis que atacam a democracia, por exemplo.

Na quinta, 19, o X indicou ao Supremo Tribunal Federal (STF) dois advogados brasileiros para atuar na defesa da plataforma no País no processo que tramita na Corte: André Zonaro Giacchetta e Sérgio Rosenthal. A informação foi confirmada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos que levaram à suspensão da rede social no Brasil.

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