Na Fórmula 1 e em outros esportes a motor, sempre existiu o debate sobre o que é mais decisivo para a vitória: piloto ou a unidade de potência? Mas, em uma nova categoria que começa a surgir, a resposta é: nenhum dos dois. Por lá, algoritmos, engenheiros de software e analistas de dados deixam os bastidores e tornam-se as estrelas. Isso acontece porque eles estão envolvidos em uma disputa entre carros autônomos, modalidade estreante na Consumer Electronics Show (CES) 2022, principal feira de tecnologia do mundo que ocorre nesta semana em Las Vegas (EUA).
A CES já vinha se tornando um dos principais eventos para a exposição de automóveis elétricos e autônomos. Montadoras como Hyundai, Ford, General Motors e BMW, entre outras, marcam presença anual nos estandes, onde é possível encontrar também novos nomes no ramo - na terça-feira, 4, a Sony anunciou a criação de uma divisão dedicada a produzir veículos elétricos.
Parece lógico, portanto, que a CES seja palco de uma corrida entre carros autônomos, planejada para esta sexta-feira, 7, no autódromo de Las Vegas. Correndo com o mesmo chassi autônomo Dallara AV-21 (equipado com sensores como GPS, radares e câmeras LiDAR), serão 9 equipes de 19 diferentes universidades do mundo que disputarão a segunda corrida do Indy Autonomous Challenge (IAC) - a primeira largada ocorreu em Indianópolis, nos EUA, em 23 de outubro do ano passado.
Durante treino acompanhado pelo Estadão às vésperas da grande corrida, as equipes, formadas por estudantes de robótica de universidades como Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e Universidade da Califórnia, reuniam-se em volta de notebooks ao sol do deserto para acompanhar os "pilotos" (isto é, os softwares de cada carro). Ao fundo, os veículos circulavam na pista, sozinhos.
"O software aprende a dirigir autonomamente, mas nós precisamos supervisioná-lo para que tenhamos a confiança de que não irá colidir com algo", explica Philip Karle, da Universidade Técnica de Munique (TUM), na Alemanha, cuja equipe foi a vencedora da prova de Indianápolis com voltas de até 217 km/h. Agora, diz ele, a velocidade do carro deve chegar a 24o km/h, graças a aperfeiçoamentos em robótica e inteligência artificial. "As melhorias vão sendo constantes ano a ano."
Mais do que diversão
O objetivo da corrida de carros autônomos, contudo, não é só fornecer entretenimento para amantes de tecnologia e corridas - na verdade, a expectativa é que a popularização dessas disputas de automóveis autônomos ajude a quebrar preconceitos contra esse tipo de veículo, atraia investimentos no setor e ajude a tornar mais palpável o sonho de carros que circulem sozinhos pelas ruas. No curto prazo, as equipes imaginam que suas soluções sendo adotadas pela indústria automobilística.
"Nossa tecnologia pode ajudar motoristas a dirigirem de maneira mais segura. Por exemplo, se eu sou um piloto de Fórmula 1 e estou com a visão incapacitada por causa de fumaça na pista, a tecnologia de autonomia pode entrar em jogo", explica Paul Mitchell, presidente executivo da principal organizadora do IAC, a Energy Systems Network.
No uso comercial, empresas como Tesla e Waymo testam seus automóveis com velocidades de, em média, 50 km/h nas ruas, onde devem desviar de obstáculos, frear diante de faixas de pedestres e obedecer a outras regras do ambiente urbano - características que os "pilotos" da IAC não enfrentam. Para Mitchell, o principal desafio é melhorar a velocidade dos veículos, sem expor as pessoas.
"A questão é se podemos colocar pessoas em carros autônomos com essa velocidade. Minha opinião é a de que estamos longe disso ainda", diz Mitchell. "Mas sabemos que esse futuro está chegando."
*Repórter viajou a convite da Consumer Technology Association (CTA)