A descoberta arqueológica que pôs fim a antigo mito sobre 'cidade de gigantes' na Etiópia

19 jun 2017 - 12h43
Ruínas da mesquita do século 12
Ruínas da mesquita do século 12
Foto: Prof Tim Insoll, University of Exeter

Arqueólogos descobriram uma cidade "perdida" há mil anos na Etiópia, que, por ter paredes construídas com blocos exageradamente grandes, deu origem ao mito de que gigantes viviam na região.

Além das ruínas, os pesquisadores encontraram vários artefatos vindos de outras regiões do mundo - como Egito, Índia e China. Segundo os arqueólogos, a cidade era um importante e vibrante polo de comércio internacional.

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Os especialistas não encontraram evidências que comprovassem o mito da "cidade de gigantes".

"Nós refutamos isto, mas não temos certeza de que eles (a população local) acreditam em nós", comentou arqueólogo-chefe da expedição, Timothy Insoll, professor da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha.

Os pesquisadores também descobriram uma mesquita do século 12, semelhante às encontradas na Tanzânia e Somália. Isso, segundo eles, comprova que as diferentes comunidades islâmicas na África se comunicavam.

A equipe ainda encontrou joias e artefatos de Madagascar, das Maldivas, Iêmen e China. Isso porque, segundo Insoll, Harlaa era um centro "rico e cosmopolita" de fabricação de joias.

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"Os moradores de Harlaa faziam parte de uma comunidade misturada de estrangeiros e locais que realizavam comércio com outras populações do Mar Vermelho, Oceano Índico e possivelmente até do Golfo Árabe", explicou o pesquisador.

"Esta descoberta revoluciona nossa compreensão sobre o comércio em uma parte negligenciada da Etiópia em termos arqueológicos. O que encontramos mostra que esta área era o centro do comércio na região", disse Insoll.

Os cientistas estão analisando os restos de cerca de 300 pessoas enterradas no cemitério local para saber mais sobre suas dietas. Novas escavações devem ser realizadas no local no próximo ano.

Foto: BBCBrasil
Essas contas são sinais de um comércio lucrativo na região
Foto: Prof Tim Insoll, University of Exeter
Mais escavações são esperadas para o próximo ano
Foto: Prof Tim Insoll, University of Exeter

Encruzilhada religiosa

A Etiópia foi um dos primeiros lugares no mundo a serem habitados por humanos. Em 2015, pesquisadores descobriram ossos de mandíbulas e dentes no nordeste do país que datavam entre 3,3 milhões e 3,5 milhões de anos.

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O reinado de Aksum, no que é hoje o norte da Etiópia, adotou o cristianismo copta, que era praticado no vizinho Egito, no ano de 333.

A rainha de Sabá, mencionada no Antigo Testamento, teria sido monarca deste reinado. Ela teria viajado a Jerusalém para conhecer o rei Salomão.

O islamismo chegou à Etiópia no século 7, trazido por discípulos muçulmanos fugindo da perseguição em Meca. A cidade de Harar, perto da região de Harlaa, é descrita pela Unesco como uma das cidades mais sagradas do Islamismo no mundo.

Harar tem 82 mesquitas, incluindo três que datam do século 10, e 102 templos.

Hoje há cerca de 30 milhões de cristãos e 25 milhões de muçulmanos no país, de acordo com o censo de 2007.

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