China: veados servem de presas para tigres ameaçados de extinção

O aumento dos assentamentos, exploração madeireira e caça ilegal estão entre os motivos para a queda dramática da população de tigres

16 set 2013 - 11h10
(atualizado em 7/6/2018 às 13h29)
Em 2012, um total de 37 veados foram liberados, enquanto que no mês passado um número semelhante foi deixado no local
Em 2012, um total de 37 veados foram liberados, enquanto que no mês passado um número semelhante foi deixado no local
Foto: AFP

Conservacionistas que procuram preservar o tigre de Amur, o maior felino vivo do mundo, estão levando veados para as montanhas do noroeste da China. O objetivo é aumentar o número de presas para alimentar os felinos.  Em 2012, um total de 37 veados foram levados para as montanhas, enquanto que no mês passado um número semelhante foi deixado no local. Dale Miquelle, do Programa da  Conservação de Vida Selvagem da Rússia, alerta que um tigre precisa matar cerca de 50 veados e javalis por ano para sobreviver.

Conservacionistas citam o aumento dos assentamentos humanos, exploração madeireira e caça ilegal de tigres - tanto para uso na medicina chinesa - e presas como os motivos para a queda dramática da população. "O número de presas é muito baixo em comparação com outros países", disse Rohit Singh da organização de conservação global WWF.

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WWF tem um projeto para aumentar o número de veados em Wangqing Reserva Natural Nacional de Jilin, em um esforço para dar aos tigres - e leopardos de Amur ainda mais ameaçados de extinção - uma chance de crescer e se multiplicar.

Especialistas afirmam que antigas tradições chinesas que incentivam o uso de produtos derivados dos tigres na medicina encorajam a caça ilegal na Rússia e representam uma ameaça ao tigre de Amur, que vive na Rússia e na China.

A demanda por tais produtos na China "é uma das principais ameaças ao tigre de Amur", afirmou Alexei Vaisman, coordenador do programa russo de preservação da rede de monitoramento de comércio da vida selvagem TRAFFIC. Em um estudo realizado em 2007 em cidades chinesas, 43% das pessoas entrevistadas disseram ter consumido produtos derivados de tigres, inclusive remédios tradicionais feitos a partir de ossos destes animais, que em 1993 foram oficialmente removidos da farmacopeia da medicina tradicional chinesa. Segundo a mesma pesquisa, 88% dos consultados disseram saber que os produtos eram ilegais.

Grace Ge Gabriel, diretora regional para a Ásia do Fundo Internacional para o Bem-estar Animal (IFAW), chefia uma campanha contra o uso de produtos derivados de tigres na China, cujos esforços se concentram nos jovens. "Estamos mostrando um vídeo em universidades. Se você falar com profissionais chineses hoje, a maioria dirá que não usa mais produtos de tigres. A ideia ainda resiste entre os mais velhos, por isso esperamos educar os jovens para que eles possam influenciar os mais velhos", acrescentou.

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Segundo Vaisman, outro problema é que a China carece de "controles adequados sobre o tráfico interno". "Os pacientes acreditam nos poderes destes remédios e esta fé responde por 80% de seu sucesso. Isto influencia as autoridades e por isso os remédios continuam sendo vendidos", acrescentou.

Esta situação encoraja a atuação de caçadores ilegais, sobretudo no extremo leste russo, onde vive a maioria da população mundial de tigres de Amur, estimada em 450-500 indivíduos. A China tem apenas 40-50 animais desta subespécie vivendo na natureza. "Rússia e China dividem uma extensa fronteira, e (como) a maioria dos tigres vive na Rússia, é muito importante proteger esta fronteira", completou Ge Gabriel. "Acreditamos que a maioria dos caçadores ilegais seja russa. Há uma motivação, que é o comércio. (Por isso), se detivermos o comércio, deteremos a caça ilegal", disse ela.

Os dois países têm acordos para cooperar na prevenção do tráfico e agentes de alfândega russos têm sido treinados para lidar com o problema, no entanto, reconheceu Vaisman, "há corrupção na fronteira". Outro problema que precisa ser resolvido refere-se aos hábitats dos tigres dos dois lados da fronteira sino-russa, lembrou Ge Gabriel porque, "os tigres, obviamente, não andam com passaporte". "Os tigres precisam de grandes áreas, sendo necessário um espaço de 250 km quadrados para um único tigre encontrar comida para sobreviver. As regiões de fonteira precisam estar conectadas", acrescentou.

Estes esforços já começaram, disse o ministro de Recursos Naturais da Rússia, Yury Trutnev, durante a cúpula, e Rússia e China estão "em vias de criar zonas transfronteiriças para estabilizar a população de tigres na Rússia e seu aumento na China".

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A cúpula, a primeira reunião deste nível a reunir líderes nacionais para discutir a preservação do tigre, visa a salvar a espécie da extinção e dobrar a população destes grandes felinos no próximo Ano do Tigre, segundo o calendário chinês, que será celebrado em 2022.

Décadas de tráfico de partes de tigres e destruição de seus hábitats fizeram encolher o número de tigres de 100 mil, no século passado, para apenas 3,2 mil atualmente, e segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a espécie está em vias de extinção total.

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