Uma bizarra criatura, similar a uma marmota, viveu no reino dos dinossauros há 66 milhões de anos, revelou um estudo publicado nesta quarta-feira, que reescreve a história dos mamíferos.
Pesando cerca de 9 quilos, o "Vintana sertichi" é agora o maior mamífero do Hemisfério sul conhecido a ter vivido na era Mesozoica.
Um "super peso-pesado" em comparação com mamíferos da época, que não eram maiores que um camundongo, a criatura tem lugar garantido no livro da vida, afirmaram cientistas.
Sua existência significa que os mamíferos - que se tornaram os senhores do planeta, depois que os dinossauros desapareceram - devem ter evoluído milhões de anos antes do que se pensava, afirmaram.
Com 13 centímetros, o crânio fossilizado da estranha criatura foi encontrado por acaso em um bloco de 70 kg de arenito, que foi levado de Madagascar para um laboratório em Nova York.
"Nenhum paleontólogo poderia ter chegado perto de prever a estranha combinação de características que este crânio apresenta", disse David Krause, da Universidade Stony Brook de Nova York, que chefiou o estudo, publicado na revista Nature.
Com cerca de duas vezes o tamanho de uma marmota moderna, a Vintana tinha incisos similares aos dos roedores e molares à prova de desgaste, supostamente usados para mastigar raízes, sementes e frutas.
Olhos grandes teriam permitido ao animal ver com pouca luz, enquanto o formato e o tamanho de sua orelha interna sugerem que o animal poderia ouvir frequências mais altas que os humanos.
Provavelmente, foi um animal ágil e a ampla cavidade nasal indica que tinha um olfato apurado.
Com uma "notavelmente bizarra" mistura de traços primitivos e especialidades modernas, a Vintana representa uma novo gênero e espécie dos enigmáticos mamíferos primitivos de uma subordem conhecida como Gondwanatheria, que viveram no supercontinente denominado Gondwana.
Há apenas 30 anos, os Gondwanatheria eram completamente desconhecidos.
A descoberta permite o primeiro 'insight' nos hábitos dos animais e seu lugar no mundo durante o ocaso dos dinossauros.
Ela rearranja a árvore genealógica dos mamíferos, marcando sua origem 25 milhões de anos antes do que se pensava.
Trata-se da "descoberta da década para compreender a história profunda dos mamíferos", afirmou o especialista em evolução, Zhexi Luo, da Universidade de Chicago, em um comentário sobre o estudo.
Com base em descobertas fósseis, Vintana compartilhou seu hábitat com dinossauros carnívoros e herbívoros, bem como com crocodilos, cobras, sapos gigantes, lagartos, peixes e meia dúzia de espécies de aves.
Seu crânio, sem a mandíbula inferior, foi descoberto quando cientistas examinavam o bloco de arenito, coletado em 2010 em Madagascar, em busca de fósseis de peixe.
"Nós fizemos uma tomografia computadorizada (no bloco) aqui na Universidade Stony Brook, no Departamento de Radiologia, e ficamos assombrados ao ver um crânio de mamífero nos encarando na tela", contou Krause à AFP.
"Certamente foi um daqueles momentos eletrizantes de descoberta paleontológica!", prosseguiu.
Foram necessários seis meses para extrair suavemente o crânio da pedra, de forma que a descoberta preciosa pudesse ser comparada com outros fósseis e com mamíferos vivos.
Como tributo à forma como foi descoberta, Vintana é a palavra em malgache (a língua falada em Madagascar) para "sorte". Seu segundo nome é uma homenagem a Joe Sertich, que coletou o espécime.
Vintana resultou de cerca de 20 milhões de anos de evolução, desde que Madagascar se separou da Índia, à qual a ilha esteve conectada por 30 milhões de anos, durante a separação de Gondwana.