O primeiro pinguim nascido em um zoológico do Brasil completou o primeiro ano de vida sendo uma das principais atrações do zoo de Bauru, no interior de São Paulo. O animal, da espécie Magalhães, renova a esperança de conservação desses animais, cuja população em vida livre vem decaindo a cada ano, especialmente por causa do aumento do transporte marítimo, o que representa um descarte maior de óleo nos oceanos – isso, combinado com a diminuição dos recursos pesqueiros, além da poluição provocada pelo lixo que chega aos mares, tem causado uma rápida diminuição no tamanho das colônias.
Até o nascimento desse filhote a reprodução de pinguins no País só havia ocorrido em três ocasiões: uma vez no Aquário de Santos (SP) e duas no Aquário do Guarujá (SP), mas nunca em um zoológico. O animal nasceu em 16 de dezembro do ano passado, mas a informação só foi divulgada quase um mês depois.
Outra boa notícia para os pesquisadores é que o mesmo casal que gerou esse filhote está incubando dois novos ovos. A equipe do zoológico aguarda com expectativa a chegada de um novo pinguim. "A postura de dois ovos é comum, mas geralmente só um filhote nasce ou sobrevive", explica o diretor do zoo, Luiz Pires.
A chegada do "bebê pinguim" está prevista para a véspera de Natal, depois de 42 dias de incubação compartilhada entre o pai e a mãe. "Percebemos que o esquema de rodízio funciona da seguinte maneira: o pai cuida dos ovos à noite e pela manhã e, a mãe, à tarde", detalha Pires. Caso o segundo filhote não nasça em até dois dias após o primeiro, o ovo será retirado e continuará sendo incubado artificialmente para evitar qualquer acidente.
Ainda segundo ele, não é possível que os visitantes do zoo vejam os ovos, já que eles ficam escondidos em uma toca (buraco no chão), dentro da câmara climatizada onde os animais vivem a 16°C e umidade relativa do ar de 65%.
O diretor do zoo ressalta ainda que, em 2012 logo após o primeiro nascimento em Bauru, dois filhotes nasceram no zoológico de Gramado (RS), sendo de extrema importância para a reprodução da espécie. "Começa a se formar uma geração de pinguins em cativeiro e, com isso, será possível fazer uma troca com outros aquários e zoológicos para que haja variabilidade genética e o cruzamento entre indivíduos não aparentados", disse. Ele explica ainda que não pode haver reprodução entre animais da mesma família, correndo-se o risco dos filhotes nascerem com problemas.
Ainda não se sabe o sexo do filhote nascido há exato um ano e, segundo o diretor do zoo, um exame de DNA feito em laboratório próprio em 2014 vai indicar essa informação. E ainda é preciso esperar mais dois anos para que ele possa se reproduzir e contribuir para o trabalho de conservação da espécie.
Décadas de dedicação
O trabalho para conservação dos pinguins em Bauru teve início em 1987, quando os biólogos da instituição iniciaram os estudos para construção de um recinto próprio para abrigar as aves. O primeiro recinto climatizado para pinguins no Brasil foi inaugurado no local em 1989 e desde então a instituição mantém a espécie em cativeiro.
Os pinguins de Magalhães habitam o sul da América do Sul (Antártida, Ilhas Malvinas, Patagônia, sul da Argentina e Chile) e, todos os anos, fugindo o intenso frio de seu ambiente natural, realizam uma migração de mais de 6 meses até águas mais quentes.
Luiz Pires explica que os pinguins que são encontrados nas praias brasileiras durante o longo processo de migração geralmente estão doentes, machucados e com apenas 1/3 do peso. As aves são resgatadas, mas devido às condições graves de saúde, acabam morrendo.
Fundado há 33 anos, o Zoológico de Bauru está localizado em uma área de mata semidecidual (pertencente ao bioma da Mata Atlântica) e possui 50 mil m² de área construída. Oitocentos e oitenta animais compõem o plantel da instituição, divididos em 227 espécies agrupados em peixes, répteis, aves e mamíferos. Os animais são distribuídos em recintos separados em setores de acordo com as famílias.
Além da preservação, o zoo se dedica à reprodução em cativeiro de espécies ameaçadas de extinção como o lobo guará, o mico-leão-dourado e o sagui bicolor. Cerca de 180 mil pessoas visitam o local anualmente.