No topo de uma montanha no sudoeste dos Estados Unidos, no Observatório do Vaticano, padres católicos estudam planetas habitáveis - o que pode parecer estranho para muita gente, dado as grandes diferenças, algumas incompatíveis, entre ciência e religião. Para os próprios padres, no entanto, a pesquisa no observatório representa uma forma de "se conectar com o criador".
"Não, nós não estamos fazendo nada estranho", disse o vice-diretor do observatório do Vaticano, padre Paul Gabor. "Nós estamos realmente fazendo ciência, não estamos atrás de alienígenas para evangelizá-los’".
Os dez astrofísicos empregados pela igreja dizem que estão tentando conquistar avanços sobre o conhecimento que temos atualmente sobre o universo.
"O Observatório do Vaticano é uma operação muito pequena por causa da maneira curiosa como recrutamos nossos funcionários. Em outras palavras, para trabalharmos aqui, precisamos ser padres", explicou o padre Gabor.
Cientistas, entretanto, dizem que há razões para não se confiar em pesquisas patrocinadas por religiões. "Levando em consideração a natureza sobre o que é requisitado para trabalhar no Observatório do Vaticano, você não iria esperar que os melhores cientistas fossem querer fazer parte disso, porque os melhores cientistas, em geral, são ateus", disse o físico, também ateu, Lawrence Krauss. "Até pelo senso intelectual, claro que ciência e a doutrina das religiões mundiais são completamente incompatíveis. E isso tem sido assim por séculos e séculos".
Ciência e religião
Essa crítica, porém, é rechaçada pelos astrônomos do Vaticano. Para eles, especialmente na astrofísica, os limites entre ciência e religião não existem.
O Observatório do Vaticano foi transferido para Tucson, no Arizona, em 1981, quando a qualidade ruim do ar da Itália tornou impossível a continuidade das pesquisas por lá. Desde então, os trabalhos dos astrônomos católicos têm sido feitos da Universidade do Arizona.
"Acho que pessoas que são destinadas para as grandes questões sobre fé também estão destinadas à astronomia, porque nela você também faz grandes questionamentos", comentou Buell Jannuzi, chefe do observatório da Universidade do Arizona.
A primeira menção a um observatório do Vaticano de que se tem registro é de 1582, mas sua existência só foi confirmada oficialmente em 1891, pelo papa Leão 13.
À época, ele disse que seu objetivo era deixar claro que a Igreja Católica Romana "não se opunha à verdadeira e sólida ciência".
O padre jesuíta Paul Gabor acredita que, se há outros planetas habitáveis no universo, provavelmente deve haver vida neles. Ele diz também que consegue, cada vez mais, entender a grande conexão entre astrofísica e religião. "Quem tenta entender isso consegue ver que o universo, de fato, quer ser compreendido".