Cientistas encontraram um planeta cuja superfície tem uma temperatura que supera os 4 mil graus Celsius - ou seja, é quase tão quente quanto o Sol.
Chamado pelos astrônomos de KELT-9b, ele orbita uma estrela muito quente e, além disso, fica muito perto dela, o que explica sua altíssima temperatura.
Prova dessa proximidade é que o planeta completa uma órbita ao redor da estrela em apenas dois dias - para comparação, a Terra leva um ano para dar a volta em torno do Sol.
Estar perto assim da estrela significa que o KELT-9b não conseguirá existir por muito tempo - os gases em sua atmosfera estão explodindo o tempo todo com a radiação, se perdendo no espaço.
Pesquisadores afirmam que o planeta se assemelha a um cometa, pois circula a estrela de um polo a outro - mais um aspecto estranho da descoberta.
As novidades foram divulgadas na publicação científica Nature.
'Estranho e raro'
As características e propriedades raras do KELT-9b também foram apresentadas nesta segunda-feira na reunião de primavera da Sociedade Americana de Astronomia, realizada em Austin, no Texas.
"Nós descobrimos o KELT-9b ainda em 2014. E levou todo esse tempo para que finalmente nos convencêssemos de que esse mundo completamente estranho e raro era realmente um planeta orbitando outra estrela", disse à BBC Scott Gaudi, professor da Universidade Estadual de Ohio.
"Nós sabemos o tamanho do planeta e o quão maciço ele é: cerca de três vezes a massa de Júpiter e duas vezes o tamanho de Júpiter", contou.
"Também conhecemos as propriedades da estrela: ela tem uma massa duas vezes e meia maior que a do Sol e é quase duas vezes mais quente que ele. E está girando muito rápido, então pareceria muito achatada aos nossos olhos."
O movimento do planeta está, de certa forma, bloqueadopela estrela - ele mantém a mesma face virada para ela. Assim como a nossa Lua faz - ela nunca mostra à Terra seu lado oposto.
Essa característica faz a temperatura do "lado diurno" do KELT-9b chegar a 4,3 mil graus Celsius - mais quente do que a média registrada na superfície de uma anã vermelha, o tipo de estrela mais comum na Via Láctea.
Destruição à vista
A estrela principal, conhecida como KELT-9, irradia tanta luz ultravioleta que pode corroer completamente a atmosfera do planeta.
A equipe de Gaudi calcula que, com isso, cerca de 10 bilhões ou até 10 trilhões de gramas de material podem estar sendo perdidas por segundo.
Se o KELT-9b possuir um núcleo rochoso, ele poderá ficar completamente exposto em algum momento, mas o cenário mais provável é que o planeta acabe "engolido" pela estrela.
A KELT-9 é classificada como uma estrela do tipo A, o que significa que ela brilha bastante e terá uma vida breve.
Os exemplares dessa classe existem apenas por milhões de anos, em vez dos bilhões de anos estimados para a vida do nosso Sol, por exemplo.
Por causa disso, pode não demorar para que a KELT-9 inche, conforme seu combustível se esgote, e "engula" o planeta.
A descoberta foi feita usando um sistema telescópico avançado, optimizado para registrar estrelas brilhantes.
A Universidade Estadual de Ohio opera o sistema em dois lugares - um no Hemisfério Norte e outro no Sul. O trabalho é feito em parceria com as universidades Vanderbilt e Lehigh e o Observatório Astronômico Sul-Africano.