À medida que áreas agrícolas e residenciais invadem o habitat dos grandes felinos, cresce o número de encontros fatais para os humanos. Compreender o comportamento dos leopardos é a chave, afirmam conservacionistas.No início de novembro, um menino de sete anos de uma família de trabalhadores migrantes foi morto por um leopardo ao sair de casa em Pune, no estado de Maharashtra, no oeste da Índia.
Foi a oitava morte do gênero desde março nessa região florestal, somando-se a nove outras no estado de Uttarakhand, nas montanhas, onde o medo dos felinos forçou o fechamento de escolas. Em Rajasthan, no norte, o saldo foi de dez vítimas; enquanto em Karnataka, no sul, os leopardos têm atacado cães.
Os incidentes coincidem com o crescimento da população desses animais selvagens no país, que atualmente chega a 13,8 mil, segundo o Ministério de Florestas e Meio Ambiente.
Ao longo dos anos, a urbanização e a expansão agrícola indiana expulsaram os leopardos de seu habitat natural. Eles foram forçados a se adaptar, buscando fontes de alimento mais próximas dos assentamentos humanos, investindo contra o gado e até mesmo seres humanos.
"Isso é uma receita para o exacerbamento do conflito entre humanos e carnívoros. Ele afeta as parcelas mais pobres da sociedade, com suas condições de moradia precária e dependência dos recursos da floresta para se manter", explica o conservacionista Yadvendradev Jhala, ex-diretor do Wildlife Institute of India.
"Para mitigar o conflito humanos-leopardos, uma estratégia é reduzir a dependência das comunidades dos recursos florestais. Outra seria limitar a expansão e distribuição desses grandes carnívoros tendentes a conflitos, empregando estratégias brandas de gestão populacional."
Remoção é só transferência de problemas
Especialistas em vida selvagem e conservacionistas observam que os ataques por grandes felinos resultam da aglomeração, com os padrões comportamentais humanos colocando-os em contato regular com o território dos leopardos.
O biólogo Ravi Chellam ressalta que, num país grande e diversificado como a Índia, as causas desses choques variam muito, exigindo soluções específicas para cada região.
"Não devemos nunca esquecer que a coexistência com a vida selvagem é comum e muito difundida entre as comunidades regionais indianas." Portanto, afirma, é preciso uma compreensão nuançada de cada situação, o que só é possível se os agentes florestais atuam em cooperação estreita com a população local. "Em alguns casos, vai ser preciso capturar os leopardos, e aí é melhor eles não serem libertados, sobretudo se for longe do local de captura."
Munida de ampla experiência em minimizar os conflitos entre humanos e leopardos, a bióloga Vidya Athreya enfatiza a importância de compreender o comportamento dos felinos: "Translocar leopardos pode intensificar os conflitos. A mudança para territórios não familiares pode estressá-los e perturbar suas estruturas sociais, muitas vezes resultando em comportamentos mais agressivos contra humanos. Em vez disso, para prevenir conflitos, o foco deve estar na gestão de habitats e conscientização da comunidade."
Jhala defende que o problema precisa ser resolvido por profissionais: "Os carnívoros comprovadamente perigosos para humanos devem ser removidos imediatamente da população. Se isso não for feito de modo profissional e da maneira mais humana, a comunidade [felina] vai retaliar."
No entanto, capturá-los e libertá-los em outro local só desloca o problema. Além disso, talvez a remoção sequer seja necessária, e até mesmo "contraproducente, pois um leopardo amistoso removido é muitas vezes substituído por outro talvez mais inclinado a conflitos", alerta o conservacionista.
"Priorizamos um animal, esquecemos a floresta"
Em Mumbai, onde a urbanização atinge áreas vizinhas ao Parque Nacional Sanjay Gandhi, partes interessadas, como organizações ambientais e conservacionistas, lançaram uma campanha de sensibilização para educar os cidadãos sobre as medidas cautelares visando reduzir as interações com os leopardos. Deu resultado: o número de conflitos caiu drasticamente.
"Sob as circunstâncias corretas, seres humanos e leopardos podem coexistir no panorama urbano da Índia", afirma o operador de safaris Vikram Dayal. "Embora a medida de curto prazo de transferir o animal problemático para um parque de vida selvagem distante possa parecer uma solução, não é."
"A solução de longo prazo requer educação em gestão de resíduos, regras básicas de procedimento nas áreas próximas à vida selvagem, e planejamento urbano adequado. O conflito não se refere só ao leopardo e os vizinhos de áreas de preservação. É a mentalidade que precisa mudar. Nós damos quase toda prioridade a um só animal e acabamos esquecendo a floresta toda e as outras criaturas."