Um time de paleontólogos liderados por Lee Berger fez descobertas que podem mudar o rumo dos estudos sobre a evolução humana. Durante uma escavação no sistema de cavernas Estrela Ascendente, na África do Sul, os cientistas descobriram um cemitério sem igual. Ele foi datado com 100 mil anos a mais do que o cemitério considerado o mais antigo até então — e não foi feito por humanos.
As ossadas enterradas nas cavernas têm entre 236 mil e 335 mil anos. Atualmente, os sítios arqueológicos com funerais mais antigos aceitos por cientistas são os encontrados em Israel, datadas de cerca de 92 mil anos atrás. Se confirmada, a evidência pode comprovar que o pensamento simbólico surgiu muito antes do que se pensava.
Os enterros do Homo naledi
O que deixa a descoberta ainda mais interessante é que os sepultamentos nas cavernas Estrela Ascendente não foram feitos por Homo sapiens, mas por um ancestral de cérebro bem menor, oHomo naledi.Se você não se lembra desse nome na escala evolutiva, não se preocupe, a culpa não é sua, nem da sua escola. O Homo naledi foi descoberto em 2013 nesse mesmo sistema de cavernas. Na época, foram encontrados mais de 1500 ossos de pelo menos 15 indivíduos diferentes.
As descobertas foram suficientes para delimitar este novo parente humano, que chegou a ser contemporâneo do Homo sapiens. O Homo naledi tinha um corpo bem menor, com uma altura média estimada entre 1,4 a 1,5 metros e pesando 39 kg. Assim, a espécie tinha um cérebro bem menor do que o Homo sapiens e o fato de terem sobrevivido por tanto tempo pode questionar a noção de que o cérebro maior foi sempre uma vantagem evolutiva.
Os novos ossos foram encontrados enterrados em uma profundidade de cerca de 30 metros e, segundo os paleontólogos, não há risco de que seja um enterro acidental, já que os buracos parecem terem sido feitos intencionalmente. Outro ponto polêmico da pesquisa é atribuir a uma espécie com o cérebro tão pequeno a capacidade do pensamento simbólico.
A importância dos enterros na escala evolutiva
O ato de realizar enterros sempre foi visto por paleontólogos e arqueólogos como um divisor de águas na espécie humana, já que comprovaria a capacidade de demonstrar sentimento, cuidado em grupo e, mais tarde, até a crença na vida após a morte. Junto às sepulturas, foram encontrados desenhos em formas geométricas, como quadrados e triângulos, que poderiam corroborar a visão de que o Homo naledi já tinha a capacidade do pensamento complexo.
Já se sabe que o Homo neanderthalensis descartava o corpo de mortos em uma mesma localidade, mas o fato de enterrar e realizar desenhos leva os sepultamentos do Homo naledi para outro patamar de intencionalidade.
As descobertas, entretanto, foram recebidas com resistência por parte da comunidade científica. Lee Berger, o líder da expedição, tem a fama de publicar novas hipóteses sem que elas sejam amplamente testadas. Em sua defesa, o paleontólogo diz que fazer pesquisas que levam anos sem compartilhar o conhecimento com o público é um ato elitista. Por hora, a descoberta ainda é uma hipótese — todos os trabalhos que citam a descoberta foram coescritos por Lee Berger e ainda não há datações para os desenhos encontrados na caverna.