Negociações climáticas começam em Bonn com missão de superar diferenças

20 out 2014 - 19h45

A ONU iniciou, nesta segunda-feira, mais uma rodada de negociações climáticas em Bonn, Alemanha, com um apelo para que as nações superem as diferenças, enquanto cientistas anunciavam um recorde global de calor para um mês de setembro.

Em um apelo aos negociadores presentes no encontro de seis dias, a chefe do Clima na ONU, Christiana Figueres, afirmou que compromissos renovados, firmados em uma conferência mundial em 23 de setembro para conter as mudanças climáticas, devem impelir os negociadores a "construir pontes".

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Segundo ela, as discussões na antiga capital alemã devem estabelecer as bases para as conversas em nível ministerial previstas para acontecer em dezembro, em Lima.

A conferência no Peru deve abrir o caminho, por sua vez, para um pacto a ser firmado em dezembro de 2015, em Paris, e que, pela primeira vez, juntará representantes de 195 países ricos e pobres na mesma arena de compromissos.

"Esta semana é uma oportunidade-chave para estender a mão a seus colegas, construir pontes e encontrar um caminho a seguir", insistiu Figueres.

Convocada pelo diretor-geral da ONU, Ban Ki-moon, a conferência em Nova York "mudou a situação do que é possível no campo das mudanças climáticas", argumentou.

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"Coletivamente, seus chefes de Estado reasseguraram ao mundo que nós vamos tratar das mudanças climáticas. Hoje, cabe a vocês desenhar o caminho dessa solução", acrescentou.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, em inglês) divulgou um informe nesta segunda-feira, segundo o qual o mês passado foi o setembro mais quente desde que registros confiáveis sobre as temperaturas médias globais começaram a ser feitos, em 1880.

A agência federal americana reportou um recorde de temperatura em setembro de 15,72°C - pelo menos 0,72ºC acima da média do século XX.

"Com exceção de fevereiro, todo mês de 2014 esteve entre os quatro mais quentes já registrados, sendo que maio, junho, agosto e setembro tiveram recorde de calor", acrescentou a NOAA.

Os negociadores em Bonn enfrentam diferenças antigas sobre o compartilhamento das restrições aos gases causadores do efeito estufa, a origem do aquecimento global, segundo cientistas.

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Esses cortes são destinados a limitar o aquecimento médio global para não mais de 2ºC com base nos níveis pré-industriais e salvar o planeta de danos climáticos potencialmente catastróficos.

Figueres reforçou que o novo pacto climático, com previsão para entrar em vigor a partir de 2020, "deve, irreversivelmente, inclinar-se para a diminuição das emissões", que continuam aumentando.

Muitos detalhes técnicos ainda precisam ser resolvidos, porém, entre eles a própria natureza legal do pacto e como este será monitorado e executado.

As negociações são a primeira chance de os negociadores discutirem um esboço de 22 páginas para o acordo, que foi elaborado por líderes de grupos de trabalho e distribuído para escrutínio em julho.

O encontro também precisa começar a selecionar quais dados serão exigidos dos países, quando submeterem seus compromissos para controle de emissões no primeiro quarto do ano que vem.

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Este tópico provavelmente fará os negociadores voltarem a um ponto sensível: se os ricos deveriam ter metas mais duras por causa de seu histórico maior de queima de combustíveis fósseis.

Os países desenvolvidos rejeitam essa ideia e apontam o dedo para gigantes emergentes em rápido crescimento, como China e Índia.

O nepalês Prakash Mathema, do grupo de Países Menos Desenvolvidos (LDC, na sigla em inglês), integrado por 48 nações, afirmou que os ricos são "historicamente responsáveis" pelas mudanças climáticas.

"Os países industrializados precisam liderar o caminho, demonstrando um alto nível de ambição com a ação para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa e apoiar a adaptação nos países em desenvolvimento", defendeu.

O bloco LDC, assim como a Associação de Pequenos Estados Insulares (AOSIS, em inglês), cujos membros estão ameaçados pela elevação do nível dos mares, querem que o aquecimento seja limitado a 1,5ºC.

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Essa meta mais baixa é considerada uma alternativa, um alvo ideal para os membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), que chancela as negociações na Alemanha.

No entanto, mais e mais especialistas consideram improvável até mesmo a meta de 2ºC.

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), se a tendência atual se mantiver, o mundo poderá ficar até 4,8ºC mais quente até 2100, e os níveis dos mares, subir até 82 centímetros, ameaçando países e cidades costeiras.

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