Presidente do IPCC renuncia após denúncia de assédio sexual

24 fev 2015 - 13h12
(atualizado às 13h12)

O presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal autoridade sobre o aquecimento global no planeta, Rajendra Pachauri, renunciou ao cargo depois de ter sido acusado de assédio sexual a uma subordinada, em um ano crucial para as discussões a respeito do clima.

O IPCC anunciou em um comunicado a saída do indiano Rajendra Pachauri, seu principal nome desde 2002, três dias depois da divulgação de uma denúncia de uma mulher de 29 anos contra o economista de 74.

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Pachauri foi imediatamente substituído por um presidente interino.

"O IPCC decidiu nesta terça-feira, de acordo com seu regulamenta, designar o vice-presidente Ismail El Gizuli como presidente em função", anunciou o organismo da ONU, que está reunido em Nairóbi.

"As ações tomadas hoje permitirão que a missão do IPCC, que consiste em avaliar a mudança climática, continuem sem interrupção", afirmou Achim Steiner, diretor do programa da ONU para o meio ambiente.

O IPCC sintetiza os trabalhos de milhares de cientistas de todo o mundo. O painel não faz recomendações, e sim constata as alternativas possíveis e as divulga aos legisladores nacionais e internacionais.

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"Não acredito que isto tenha alguma consequência sobre Paris", disse Laurence Tubiana, embaixadora francesa para as mudanças climáticas, em uma referência à reunião na capital francesa que pretende concluir o acordo mais ambicioso da história para combater o aquecimento global, um pacto universal que sucederá o Protocolo de Kyoto após o ano 2020.

"O IPCC precisa de uma direção forte, tempo e atenção plena e total de seu presidente em um futuro imediato, o que, dadas as circunstâncias atuais, não estou em condições de assegurar", admite Pachauri na carta de demissão apresentada ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

O agora ex-presidente do IPCC já havia anunciado que não participaria no evento na capital do Quênia, depois que uma cientista de 29 anos, que trabalhou sob as ordens do indiano em um centro de estudos de Nova Délhi, o acusou de assédio sexual por meio de mensagens telefônicas e e-mails.

Pachauri negou as acusações e afirmou que seu e-mail e telefone celular foram hackeados.

Os advogados do indiano solicitaram a libertação sob fiança e o "tribunal concedeu uma proteção temporária contra qualquer detenção. A próxima audiência acontecerá em 26 de fevereiro", explicou na segunda-feira à AFP o advogado Shankh Sengupta.

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Este não é o primeiro contratempo do mandato de Pachauri, que terminaria em outubro: em 2007, o quarto relatório dos especialistas continha erros como a citação de que as "geleiras do Himalaia poderiam desaparecer em 2035, ou até antes".

Desta vez, o assunto é de outra natureza, disse Alix Mazouni, da rede Action Climat.

"Não é a vida privada das pessoas o que afeta a qualidade dos relatórios do IPCC".

Mazouni admitiu a possibilidade de que os céticos do aquecimento global nos Estados Unidos utilizem este "argumento ruim" para prejudicar as negociações, já que é "munição barata".

Nesta terça-feira, Rajendra Pachauri insistiu em seu apoio ao IPCC.

"Para mim, a proteção da Terra, a sobrevivência de todas as espécies e o caráter sustentável de nossos ecossistemas é mais que uma missão. É minha religião e meu darma", disse, em referência ao conceito que, no hinduísmo, define um dever moral conforme à lei universal da natureza.

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