Como o cérebro dos jogadores de futebol é diferente do de outros atletas?

"O cérebro tende a ser mais propenso a aprender habilidades em um estágio inicial", diz pesquisador.

25 jun 2018 - 06h32
(atualizado às 09h40)

A cada quatro anos, a Copa do Mundo atrai a atenção de grande parte da população mundial.

Embora para muitos o futebol nada mais é do que um simples jogo no qual 22 jogadores correm atrás de uma bola.

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Habilidade incomum com os pés faz com que o cérebro dos jogadores de futebol seja diferente?
Habilidade incomum com os pés faz com que o cérebro dos jogadores de futebol seja diferente?
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas, apesar de diferentes gostos esportivos, há um que não passa despercebido: a habilidade dos jogadores de futebol para usar seus pés.

Essa habilidade difere da de praticantes de outros esportes, nos quais as mãos são mais utilizadas, por exemplo.

Mas essa habilidade faz com que o cérebro dos jogadores de futebol seja diferente?

Alguns cientistas acreditam que sim, apesar de especialistas na área defenderem que não há nada de "brilhante" no cérebro dos jogadores de futebol.

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Mãos super-representadas

Dentro do córtex cerebral existem regiões sensoriais e motoras. Estas últimas controlam a musculatura do corpo. Mas sua distribuição não é igual.

"As mãos são super-representadas. Há muitos neurônios que controlam as mãos, tanto no lado sensorial quanto do motor. Mas os pés são geralmente sub-representados. Poucos neurônios controlam suas atividades", diz Jeffrey Holt, neurologista e professor da Escola de Medicina de Harvard.

Por esse motivo, para Holt, o futebol é uma "exibição triunfal" da incrível capacidade de adaptação do cérebro humano.

Pesquisador estima que jogadores têm mais neurônios que controlam os pés do que uma pessoa comum
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"Eu acho que no caso dos jogadores de futebol, que se concentram quase inteiramente no uso de seus pés, eles provavelmente têm mais neurônios que controlam os pés do que uma pessoa normal", disse ele à BBC News Mundo.

Além de sua experiência como neurologista, Holt respalda sua teoria com um estudo de um grupo de cientistas italianos feito em 2009 que, por meio do uso de imagens de ressonância magnética dos cérebros dos participantes, concluiu que o treinamento intensivo do pé causou uma reorganização no córtex sensório-motor.

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Outro estudo de 2005 monitorou a atividade elétrica no cérebro de jogadores de futebol e a comparou com aqueles que não praticam o esporte.

Parte dos pesquisadores não acham que há diferenças significativas no cérebro dos jogadores de futebol
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os resultados indicaram que houve alterações no córtex cerebral de jogadores de futebol, com mais respostas elétricas maiores e rápidas, associadas com as funções das extremidades inferiores, enquanto não houve diferença entre os dois grupos ao executar tarefas das extremidades superiores.

Nada de extraordinário

Nem todo mundo acredita que essas diferenças no cérebro dos jogadores de futebol sejam surpreendentes.

"Está claro que quando nascemos o programa de padrão genético de desenvolvimento do cérebro está mais predisposto e fortalecido para que, quando formos adultos, lidarmos mais com as mãos do que com os pés", diz Estanislao Bachrach, doutor em biologia molecular com mestrado em treinamento desportivo de alta performance

"Que os jogadores de futebol praticam o esporte desde muito jovens e que treinam sua habilidade a ponto de realizar jogadas incríveis, todos nós sabemos. Mas eu não veja isso como algo incrivelmente diferente ou surpreendente. Não me parece que os jogadores de futebol sejam brilhantes por terem iessa qualidade diferente", contou à BBC Mundo.

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Nasce ou é feito?

O sucesso alcançado por Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo não é algo que acontece com todos os jogadores de futebol.

"Eu tenho certeza que existe algo genético, algumas características hereditárias que têm influência, e que isso provavelmente lhes dá uma vantagem no início", diz Holt, neurologista que trabalha no Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos.

"Mas tenho certeza de que sua experiência e seu treinamento intenso colaboraram na modificação do cérebro para transformá-los em jogadores de futebol muito mais habilidosos", acrescenta.

Bachrach acredita em algo semelhante. "Na ciência, falamos de talento e habilidade", diz ele.

"Algumas pessoas nascem com certos talentos para diferentes atividades, como futebol. E outras não nascem com talento, mas têm uma capacidade intrínseca, os recursos internos no cérebro para fortalecer essas habilidades", diz ele.

Para Marcial Pérez, engenheiro químico e especialista em Neurociência do Comportamento, para que um jogador de futebol tenha sucesso precisa desenvolver suas funções executivas, como, por exemplo, "excelente noção espacial, capacidade de manter a atenção dividida, memória, antecipação visual, reconhecimento de padrões, capacidade analítica de diferentes situações e de tomada de decisões".

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Como se modifica o cérebro?

Quando mais cedo, melhor. Embora não haja uma receita ou garantia de sucesso, dizem especialistas.

"O cérebro tende a ser mais modelável e propenso a aprender habilidades em um estágio inicial. Mas isso não significa que não possamos aprender quando adultos, embora possamos não ser tão rápidos em obter resultados", diz Holt.

E o segredo é "acreditar, amar e praticar", diz Bachrach, autor de vários livros sobre o funcionamento do cérebro.

"Modelagem" do cérebro é uma mistura de herança e aprendizado, segundo esquisador
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Com anos de treinamento, paixão e determinação, você nunca sabe onde o potencial do cérebro pode chegar. É sempre muito mais longe do que pensamos e acima de tudo do que nossos pais e professores acreditam", diz ele.

"É um processo de crescimento contínuo. Não há idade, não há limite, mas não há garantia de sucesso", descreve.

"Claramente, é uma combinação de herança e aprendizado. Nem todo mundo pode ser Messi, mas pelo menos você pode se dedicar com perseverança para descobrir qual é o seu potencial", afirma o engenheiro Pérez.

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