Cooperação antártica quebra gelo entre brasileiros e argentinos

3 abr 2014 - 11h11

Se no calor dos campos de futebol, a rivalidade impera entre brasileiros e argentinos, na gelada base argentina Teniente Camara, em Half Moon Island, no arquipélago antártico das Shetlands do Sul, a harmonia reina entre os dois tradicionais adversários.

"Como me gusta la noche!", cantarolava um grupo de quatro cientistas brasileiros, repetindo o refrão de uma popular cumbia argentina ao se despedir dos militares que os hospedaram por um mês na "Isla Media Luna".

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O professor Antonio Pereira Batista, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), coordenador do grupo e encarregado de preparar as feijoadas dos sábados na base, conta que o convívio com os militares - responsáveis pelo churrasco ou 'asado' dos dias festivos - foi excelente e que a partida levou os argentinos às lágrimas.

A ilha, onde os cientistas estudaram comunidades vegetais em áreas de degelo, é habitat de espécies como musgos e liquens, petrel gigante (tipo de ave), lobos-marinhos e pinguim-de-Papua, com seus característicos pés e bicos vermelhos.

"A Argentina é membro do Tratado Antártico desde a sua criação [em 1961]. Como Estado membro, acho que é imprescindível a presença do país aqui. Nosso trabalho tem diferentes facetas: do apoio a operações científicas à manutenção da base para que a mesma esteja sempre operacional", explicava a jornalistas brasileiros momentos antes da calorosa despedida dos hóspedes brasileiros o chefe da base, capitão-de-corveta da infantaria da Marinha Héctor Daniel Baez.

A Argentina tem seis bases permanentes e sete sazonais (que só funcionam no verão) na Antártica.

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Entre as permanentes está a base de Esperanza, situada em Hope Bay. Em dezembro de 2013, militares que servem ali foram visitar o papa Francisco, no Vaticano, e ganharam do Pontífice argentino um solidéu, mantido sob uma redoma na capela da estação.

A Teniente Camara é sazonal e em 29 de março encerra suas atividades deste ano.

"A base está preparada para servir de alojamento. Dependendo das diferentes demandas dos Estados membros [do Tratado] ou não-membros, a base os aloja, fornece o apoio logístico, de forma que fiquem mais confortáveis. Se não tivessem esta base, teriam que passar 30 dias acampados em barracas. A diferença é que aqui é como se estivessem em casa", muito diferente de estar expostos às temperaturas negativas e aos ventos fortes, que intensificam a sensação de frio, explicou o capitão Baez.

Além de hospedar cientistas, como o grupo que concluiu seus estudos sob coordenação do professor Antonio Batista Pereira, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), a base também recebe a visita de turistas que chegam à ilha em cruzeiros. Ali eles podem carimbar seus passaportes com o selo da estação, enviar cartas e postais e aproveitar para tomar um café quente.

"Esta base recebe todos os dias de um a dois cruzeiros e de 65 a 160 turistas de várias partes do mundo, que viajam em companhias multinacionais, sobretudo francesas e chilenas. A temporada de cruzeiros começa no dia 30 de novembro e termina em 30 de março", disse Baez.

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Para ele, o turismo é importante para divulgar o local e conscientizar as pessoas do que é a Antártica: um santuário da natureza a ser preservado.

Aos brasileiros que queiram visitar Camara, o capitão garante: "Aqui os recebemos com um pouco de hospitalidade argentina".

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