Destruição de cidade histórica no Iraque provoca revolta internacional

6 mar 2015 - 10h33
(atualizado às 10h33)

A Unesco chamou nesta sexta-feira de "crime de guerra" a destruição da antiga cidade assíria de Nimrod, no Iraque, pelo Estado Islâmico (EI), o mais recente dos vários atos de vandalismo executados pelo grupo jihadista.

O EI, que no mês passado incendiou a valiosa biblioteca de um museu de Mossul, começou na quinta-feira a destruir com escavadeiras as ruínas assírias de Nimrod, informou o ministério iraquiano o Turismo. O governo de Bagdá acredita que o equipamento de demolição começou a ser levado para região das ruínas na semana passada.

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A joia arqueológica, de valor incalculável, fica 30 km ao sudeste de Mossul, um reduto estratégico para os jihadistas, que iniciaram no ano passado uma rápida ofensiva a partir da Síria, assumindo o controle de amplos territórios no Iraque.

"Até agora, não sabemos até que ponto a cidade foi destruída", afirmou à AFP um funcionário do governo que pediu anonimato.

As ruínas, situadas na bacia do rio Tigre, são as vítimas mais recentes do que parece uma campanha sistemática dos jihadistas para dizimar a rica herança patrimonial do Iraque.

"Estou devastado. Mas era uma questão de tempo, agora estamos esperando o vídeo. É triste", disse à AFP Abdelamir Hamdani, um arqueólogo iraquiano da Universidade Stony Brook de Nova York.

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A destruição da cidade fundada no século XIII antes de Cristo acontece poucos dias depois da divulgação pelos jihadistas de um vídeo que mostra a destruição de várias esculturas pré-islâmicas.

Una parte dos impressionantes frisos e estátuas colossais de touros alados com cabeças humanas de Nimrod foram deslocados para vários museus em diversos países ao longo do século XIX.

Em 1988, a descoberta de 613 peças de joalheria, ornamentos e pedras preciosas encontradas em uma tumba real foi considerada como uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX.

"O plano é destruir o patrimônio iraquiano", afirmou Hamdani, que acredita que é lógico pensar que o próximo alvo dos jihadistas será Hatra, uma localidade com 2.000 anos e que também está registrada no catálogo da Unesco.

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Hatra, que está muito bem preservada, foi construída com influências helênicas, romanas e incorporando também estilos orientais.

A diretora da Unesco, Irina Bokova, condenou com veemência a destruição de Nimrod.

"Não podemos permanecer em silêncio. A destruição deliberada do patrimônio cultural constitui um crime de guerra. Faço um apelo a todos os dirigentes políticos e religiosos da região para que atuem contra este novo ato de barbárie", disse.

Bokova destacou ter informado o presidente do Conselho de Segurança da ONU e o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional sobre o tema.

Ela apelou ao conjunto da comunidade internacional por uma "união de esforços para interromper a catástrofe".

"A limpeza cultural de que é objeto o Iraque não para diante de nada nem de ninguém: tem como objetivo a vida humana e as minorias, além de ser acompanhada pela destruição sistemática de um patrimônio milenar da humanidade", destacou Bokova.

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O grupo jihadista EI justifica a destruição do patrimônio cultural com a alegação de que as estátuas podem induzir à idolatria.

Mas os analistas destacam a hipocrisia do EI, que apesar de criticar as imagens não vê problema em vendê-las para colecionadores no mercado negro.

As estátuas imponentes, impossíveis de transportar, são as destruídas, segundo os especialistas.

A comunidade internacional condenou com veemência as destruições, mas parece relegada a um papel de simples observador, já que não pode atuar nos territórios controlados pelo EI, lamentou o diretor da Unesco Stuart Gibson.

"No passado, pressionamos a população local a reconhecer o valor inestimável de seu patrimônio e a necessidade de protegê-lo", disse Gibson.

Mas, infelizmente, agora as pessoas estão esgotadas e aterrorizadas, destacou o especialista.

O avanço das tropas iraquianas, com o apoio dos ataques aéreos de uma coalizão internacional, parece provocar um recuo dos jihadistas, o que poderia salvar o que resta do patrimônio.

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No entanto, os civis continuam pagando o maior preço do conflito. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que 28.000 pessoas foram deslocadas esta semana e se uniram aos 2,5 milhões de iraquianos expulsos de suas casas pela violência.

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