Cientistas podem ter identificado as primeiras partículas conhecidas de poeira de fora do Sistema Solar. As amostras foram obtidas pela espaçonave Starust e trazidas à Terra por uma missão espacial da Nasa em 2006.
Uma equipe de pesquisadores identificou nesse material sete grãos exóticos, com a ajuda de 30 mil pessoas ao redor do mundo. O material foi obtido em uma região conhecida como espaço interestelar - que fica entre estrelas - e é repleta de partículas microscópicas.
Essa poeira interestelar é um produto do nascimento de estrelas, sua evolução e morte. As moléculas que a formam foram originadas no interior de estrelas formadas antes do Sol e expelidas no espaço na forma de pedras muito pequenas à medida que estas estrelas esfriavam.
Agora, os cientistas podem analisar essas partículas de forma inédita. A composição e estrutura das amostras coletadas podem ajudar a explicar a origem e evolução da poeira espacial.
Análise preliminar
Andrew Westphal, do Laboratório de Ciências Espaciais da Universidade da Califórnia, em Berkeley, diz à BBC que "os resultados (desta análise) estão permitindo entender a complexidade e a diversidade das partículas da poeira interestelar".
Uma análise preliminar realizada por Westphal e outros cientistas, publicada na revista Science, mostrou que estas particulas variam mais em tamanho, estrutura e composição química do que se pensava anteriormente com base em teorias e observações astronômicas.
"Essa análise poderia facilmente ter mostrado que as partículas de poeira interestelar são similares, mas não encontramos nada disso. Elas são todas diferentes entre si."
Em comparação, a poeira de cometas é mais recente. O material que forma o nosso Sistema Solar foi aquecido, misturado e transformado conforme o Sol e os planetas assumiram suas formas.
Duas missões
A Stardust era formada por duas missões diferentes. Apesar de ser mais conhecida por seu contato com o Cometa Wild 2, a espaçonave também capturou amostras de poeira que circulavam na corrente do espaço interestelar. Essa corrente carrega partículas muito antigas e anteriores à formação do nosso Sol, de diferentes partes da nossa galáxia.
A Stardust estava equipada com um aparelho conhecido como Coletor de Poeira Interestelar, um mosaico formado por 132 partes do tamanho de uma raquete de tênis e feito de um material conhecido como aerogel, o mais leve sólido produzido pelo homem. Esse material feito a partir de silício é composto 99% de espaços vazios.
As partículas de poeira podem viajar a uma hipervelocidade de mais de 5km/s. Como uma rede, o aerogel captura as partículas sem vaporizá-las ao reduzir sua velocidade gradualmente.
Mais de 30 mil voluntários se inscreveram no projeto Stardust@home para examinar as imagens de aerogel na busca por rastros deixados pelas partículas, que têm um diâmetro de cerca de dois milionésimos de metro.
Origem
Mas nem todas as partículas encontradas no aerogel têm origem interestelar. Os pesquisadores determinaram que quase todos os rastros haviam sido deixados por minúsculos pedaços da espaçonave, com exceção de três.
Quatro outras possíveis partículas interestelares, com um tamanho de 0,4 milionésimos de metro, foram encontradas em buracos do alumínio que reveste as peças do mosaico de aerogel.
As sete partículas são compostas de diferentes materiais, o que significa que cada uma delas tem sua própria história.
"As partículas podem ter se formado em uma estrela e, então, processadas no meio interestelar ao longo de dezenas de milhares de anos e misturadas com partículas que vieram de outras estrelas ou com partículas formadas em núvens frias de moléculas no meio interestelar; então, provavelmente, são uma mistura de uma grande variedade de coisas", explica Westphal.
Os cientistas planejam realizar mais testes além dos já publicados. A prova final estará nos níveis de diferentes formas químicas de oxigênio. Uma concentração diferente da encontrada em nosso Sistema Solar indicaria sua origem interestelar.
Ainda serão necessários vários anos de trabalho duro para refinar as técnicas hoje disponíveis para mensurar a abundância de isótopos de oxigênio presentes nas partículas de poeira sem destruí-las.
"É um passo necessário antes de ousarmos fazer algo com esse material. O problema é que ele é muito raro. Não podemos nos arriscar", diz Westphal.