Como ver a Terra do espaço pode transformar a sua vida, segundo três astronautas

Admirar a vida no Planeta Azul à distância é uma experiência reveladora, segundo os poucos que tiveram esse privilégio. Três deles conversaram com a BBC para uma série de vídeos 360.

16 jan 2018 - 09h05
(atualizado às 12h18)
Impressão artística da sonda europeia Rosetta em órbita ao redor da Terra, em novembro de 2009 | Foto: ESA
Impressão artística da sonda europeia Rosetta em órbita ao redor da Terra, em novembro de 2009 | Foto: ESA
Foto: BBC News Brasil

"Minha primeira vista da Terra foi alguns segundos após o lançamento", diz a cientista Helen Sharman, a primeira astronauta britânica.

"Assim que a carenagem se separou do foguete, a luz invadiu a cabine pela janela e eu tive uma vista do Oceano Pacífico. Foi absolutamente divino, maravilhoso."

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Sharman tinha 27 anos quando foi lançada ao espaço para passar oito dias na estação espacial soviética Mir, em 1991.

Durante a missão, passou todo o tempo possível observando o Planeta Azul pelas portinholas da estação.

Na sua última noite em órbita, deixou a persiana aberta para assistir ao nascer do sol repetidamente a cada 90 minutos, enquanto a estação espacial girava ao redor do planeta.

Experiência é reveladora, afirmam os astronautas | Foto: Nasa
Foto: BBC News Brasil

Sharman falou à BBC para nova série em vídeo 360 graus e realidade virtual, em que astronautas descrevem suas impressões ao olhar a Terra do espaço.

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Enquanto os telespectadores flutuam (virtualmente) na órbita terrestre, Sharman, o americano Ron Garan e o italiano Luca Parmitano descrevem a sensação de estar no espaço e as lições que podemos aprender com essa experiência.

Os vídeos foram produzidos para marcar o lançamento da caminhada espacial em realidade virtual da BBC. A experiência interativa está disponível para download por meio das lojas virtuais Steam e Oculus.

Luca Parmitano: Nosso planeta é de tirar o fôlego

 

O astronauta Luca Parmitano, da Agência Espacial Europeia, botou o pé para fora da Estação Espacial Internacional pela primeira às 8h02 da manhã de terça-feira, 9 de julho de 2013.

Para a caminhada espacial - ou no jargão astronáutico, atividade extraveicular - ele se acorrentou a um dos braços robóticos da espação para ser transportado até sua área de trabalho.

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"Tive o privilégio e o luxo que muito poucos astronautas tiveram", conta Parmitano.

"Eu estava carregando equipamento, por isso não pude tirar fotos ou ir a lugar nenhum - por seis minutos, não havia nada mais que eu pudesse fazer a não ser olhar."

A caminhada espacial estava programada para ocorrer durante a aurora. O sol nasceu no momento em que a estação espacial cruzava o Atlântico.

"É uma explosão de luz", conta Parmitano. "Eu estava sobrevoando a África Ocidental nessa explosão de luz - tudo de uma vez, amarelo, rosa, vermelhos, as cores do nascer do sol."

"Em primeiro plano estava o azul profundo, profundo do oceano lá embaixo... o branco das ondas quebrando na areia... depois as cores do deserto, ocres e terracota... Tudo isso vindo de uma só vez, não é uma descoberta aos poucos: é uma explosão, e é de tirar o fôlego."

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Ron Garan: O espaço coloca a Terra em perspectiva

O ex-astronauta da Nasa (a agência espacial americana) Ron Garan passou 178 dias no espaço. Foram mais de 27 horas do lado de fora do ônibus espacial e a Estação Espacial Internacional ao longo de quatro caminhadas espaciais.

As experiências transformaram sua vida: Garan dedica desde então uma boa parte de sua carreira a ensinar o que ele chama de "perspectiva orbital" por meio de livros, pintura e filme.

Em agosto de 2017, ele apresentou no Serviço Mundial da BBC o programa de rádio Voyager Missions, Space 1977 ("Missões Voyager, Espaço 1977"), sobre as sondas gêmeas de mesmo nome lançadas naquele ano.

"Ver o nosso planeta do espaço, especialmente em uma caminhada espacial, é uma experiência emocional", descreve Garan.

"O que eu experimentei foi um profundo sentimento de gratidão. Gratidão por poder ver o planeta a partir dessa perspectiva e gratidão pelo planeta que recebemos para morar."

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Curiosamente, diz, "estar distante fisicamente do único mundo que conheci na vida me fez sentir profundamente conectado com todas as pessoas nele."

"A Estação Espacial Internacional é talvez a mais complexa estrutura já construída. O que me tocou foi pensar que pudemos chegar a esse nível de colaboração. Se conseguíssemos fazer o mesmo aqui na superfície da Terra, quanto progresso não poderíamos fazer, como espécie, na resolução dos nossos desafios mais importantes?"

Helen Sharman: Lembre-se do que realmente importa

"Gostaria de dizer às pessoas quão desimportante as coisas materiais são para nós", diz Sharman, recebendo a produção da BBC em sua sala na universidade Imperial College London.

"Não estou dizendo que é errado ter um carro vermelho maravilhoso ou a última versão do que você quiser - cada qual no seu cada qual. Mas a vida não é isso."

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"O que aprendi olhando a Terra do espaço foi que os relacionamentos humanos são a coisa que mais importa na vida. Desde que você tenha o mínimo para sobreviver, a coisa mais importante são os relacionamentos que possuímos: no fim, a família e os amigos são mais importantes que qualquer outra coisa no mundo."

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