Estudo aponta que 25 dos 35 sinais vitais da Terra estão em estado crítico

Parâmetros como a temperatura do planeta, a concentração atmosférica de CO2 e as perdas de biodiversidade não param de bater recordes

10 dez 2024 - 20h15
(atualizado às 20h32)

Desde 2017, o grupo do ecólogo norte-americano William Ripple, da Universidade Estadual do Oregon, publica anualmente um artigo no periódico BioScience sobre o estado atual da crise climática. O trabalho deste ano, divulgado em outubro, apresenta dados ainda mais alarmantes que as versões passadas: 25 dos chamados 35 sinais vitais do planeta estão em níveis recordes de deterioração, com tendência a piorar nos próximos anos.

No estudo de 2023, eram 20 os indicadores em estado crítico. A iniciativa condensa dados e estudos sobre a temperatura atmosférica e a oceânica, medições do ritmo de degelo na Groenlândia e Antártida, desmatamento, perdas de biodiversidade, entre outros parâmetros. "Entramos numa nova fase da crise climática, crítica e imprevisível", disse Ripple, em material de divulgação do estudo.

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Os dados apontam para níveis sem precedentes da concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), os principais gases do efeito estufa. A taxa média atual de CO2, o mais comum deles, ultrapassou as 420 partes por milhão (ppm), 50% a mais do que no período pré-industrial.

A produção de metano também se acelerou nos últimos anos. Parte importante dessas emissões vem da fermentação entérica dos ruminantes (vacas, cabras e ovelhas), que libera metano. A cada 24 horas, o rebanho global de ruminantes cresce em 170 mil unidades, quase o mesmo nível de aumento da população do planeta, da ordem de 200 mil pessoas a mais por dia.

O estudo destaca que a temperatura média da superfície do planeta está no nível mais alto já medido, assim como a acidez dos oceanos. Camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida se encontram no nível mais baixo e a espessura das geleiras vem decaindo em ritmo acentuado. Em vez de diminuir, como necessário, o consumo de combustíveis fósseis aumentou 1,5% em 2023 e continua 14 vezes maior do que o uso das energias solar e eólica.

A produção dessas duas formas de energia limpa aumentou 15% em um ano. Mas, segundo o estudo, esse incremento apenas supre o aumento da demanda por eletricidade e não substitui o uso dos combustíveis fósseis como principal matriz energética nos países. Esses são alguns dos sinais vitais do planeta em pior estado destacados no artigo, assinado por 14 pesquisadores.

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A compreensão de algumas consequências da crise climática ainda depende da investigação de ciclos de retroalimentação que podem reforçar a piora no quadro geral do clima. Pereira alerta sobre o derretimento do permafrost, solo que ocupa um quarto da área do hemisfério Norte, na região do Ártico, em razão do aquecimento global.

O gelo presente nesse solo retém bilhões de toneladas de metano e dióxido de carbono. Sua liquefação e evaporação aumentam a concentração desses gases na atmosfera, o que gera maiores temperaturas e retroalimenta o processo de derretimento do permafrost.

O estudo do grupo de Oregon faz também outras recomendações, como a inclusão das mudanças climáticas nos currículos escolares e a ideia, controversa, de controle do crescimento populacional.

A bióloga Patrícia Morellato, da Unesp, reforça que as mudanças climáticas devem estar no currículo, desde o fundamental até a universidade, em todas as carreiras. Ela também avalia que a ideia de controle populacional faz sentido.

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"Não existe recurso infinito e o crescimento da população não pode ser infinito, ainda que possamos usar a tecnologia para produzir mais alimentos em menor área", diz Morellato, diretora do Centro de Pesquisa em Dinâmica da Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Ela, no entanto, pondera que qualquer política pública nesse sentido tem de levar em conta o direito de as mulheres decidirem sua vida reprodutiva e que medidas desse tipo já foram tomadas em alguns países e devemos analisar essas experiências.

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